SOS Racismo pede ao MAI que investigue acção da polícia no encontro de jovens em Lisboa

A PSP está atenta a novos encontros de jovens como o que se realizou no Centro Comercial Vasco da Gama e acabou mal.

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Encontros têm sido marcados através das redes sociais Nelson Garrido

Dois dos quatro detidos nos incidentes do encontro de jovens (“meet”) que terminou com desacatos no Centro Comercial Vasco da Gama, em Lisboa, têm esta segunda-feira julgamento sumário marcado por resistência e coacção sobre agentes da autoridade. A organização SOS Racismo condenou, entretanto, a actuação da PSP e exigiu ao Ministério da Administração Interna que “apure todas as responsabilidades”.

Atenta ao fenómeno, de forma a poder evitar que eventuais encontros de jovens terminem em incidentes semelhantes aos que aconteceram na quarta-feira no Parque das Nações, a PSP reforçou domingo à noite o efectivo policial no concerto de encerramento das Festas do Mar, na baia de Cascais, onde um concerto de Anselmo Ralph gratuito fazia antever a afluência de cerca de 50 mil pessoas.

Em comunicado, o SOS Racismo defendeu que  “o caos [na quarta-feira] só foi possível” devido à intervenção da PSP, que “face à concentração de jovens negros no local”, originou “uma acção tão musculada da polícia”. Para esta organização, os desacatos, que provocaram ferimentos ligeiros em cinco polícias e a detenção de quatro jovens (duas foram logo interrogadas e sujeitas à medida de coacção menos gravosa, termo de identidade e residência), “são mais uma evidência do racismo flagrante na actuação das forças de segurança em geral e, neste caso em particular, da PSP”.

Durante o fim-de-semana sucederam-se as notícias sobre eventuais novos meet, reuniões marcadas para o convívio entre amigos, nas redes sociais. Uma página no Facebook que marcava um encontro para a tarde de domingo em Odivelas foi desactivada, mas a polícia monitorizou as redes sociais na tentativa de perceber se um novo meet estava ou não a ser marcado para a noite de domingo para o concerto de Anselmo Ralph, em Cascais.

Oficialmente, a PSP sublinhava este domingo que não havia nada de anormal no efectivo destacado para acompanhar este concerto. Em declarações ao PÚBLICO, uma fonte policial admitiu apenas que o facto de “poderem acorrer mais jovens a este concerto é um factor de risco a somar a uma dezena de outros”, justificando desta forma um reforço policial acrescido. Nada de especial, porém, desdramatizou o responsável, que nota ser habitual este reforço quando se perspectiva um aumento anormal no número de pessoas. 

“Este é um fenómeno da sociedade, não é um fenómeno policial. Já houve outros meets e todos, à excepção do de quarta-feira, em que  houve incidentes, não foram notícia”, lembrou o responsável da PSP que pediu para não ser identificado. Recordando que se têm vindo a suceder encontros deste tipo, sem problemas, deu o exemplo de um meet marcado para sexta-feira à tarde em Queluz, que "juntou cerca de 300 jovens sem registo de quaisquer problemas e ninguém falou disso”.

O fenómeno dos meets, que começou nos Estados Unidos, foi imitado no Brasil onde ficou conhecido pelo nome rolezinhos,  não é assim tão novo em Portugal. No ano passado, já houve meets convocados através do Twitter, mas foi no mês passado, em função da multiplicação de convocatórias através no Facebook , que ficou mais  conhecido. “Estes encontros só passaram a ser notícia porque houve confusão”, afirma o polícia, que nota que garantir a segurança em situações deste tipo é complexo.

Nas redes sociais já estão a ser convocados novos meets para os próximos dias no Dolce Vita Tejo (Amadora), no Parque dos Poetas (Oeiras) e no Vasco da Gama. Resta saber se serão, entretanto, desconvocados.

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