PGR afinal admite discutir negociação de sentenças com criminosos

Depois de ter proibido procuradores de fazer acordos de pena, Joana Marques Vidal admite que lei possa ser alterada após debate sobre a matéria

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A procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal Enric Vives-Rubio

A procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, admite a possibilidade de um debate sobre as situações em que possam ser feitos acordos entre as autoridades judiciais e os criminosos sobre as sentenças a aplicar-lhes em tribunal - os chamados acordos de pena.

“No actual regime legal não são permitidos os acordos relativamente a sentenças penais”, explicou, admitindo que, no futuro, poderá chegar-se “à conclusão de que, relativamente a determinado tipo de criminalidade, esse tipo de procedimentos possa ser possível”.Falando no final do segundo encontro da Rede Nacional de Procuradores Contra a Corrupção, em Mafra, a PGR indicou que o assunto terá de ser “debatido, aprofundado e depois a Assembleia da República decidirá, ou não, de acordo com as propostas de alteração”. Joana Marques Vidal recordou que, actualmente, o sistema penal permite “espaços de consenso” nos crimes mais leves, com moldura penal até cinco anos, e nos processos sumários.
Questionada sobre o caso Remédio Santo, a PGR referiu que o assunto “está a ser objecto de estudo e de pareceres”. A questão dos acordos de pena foi levantada na passada semana, precisamente no âmbito deste processo, no qual 18 arguidos são acusados de burlarem o Serviço Nacional de Saúde em quatro milhões de euros.
O julgamento começou na quarta-feira no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, mas o colectivo de juízes suspendeu a sessão e concedeu uma semana para que o procurador e os advogados pudessem negociar as penas, tendo em conta as propostas apresentadas pelos arguidos.
Mas a Procuradoria-Geral da República pôs fim à pretensão dos 18 suspeitos, por essa possibilidade não estar contemplada na lei.
“Determino que os senhores magistrados e agentes do Ministério Público se abstenham de promover ou aceitar a celebração de acordos sobre sentenças penais”, refere uma directiva assinada na passada semana por Joana Marques Vidal.

A mesma responsável sublinhou a necessidade de melhorar a coordenação entre departamentos e jurisdições na investigação da criminalidade económico-financeira. "É importante também a ligação a outras áreas, como o Tribunal de Contas e a justiça tributária, ou seja a capacidade que o Ministério Público tem de ter de se auto-organizar por forma a melhorar a coordenação entre os diversos departamentos que têm por função a investigação deste tipo de criminalidade", afirmou, tendo defendido maior articulação entre os magistrados do Tribunal de Contas, dos tribunais administrativos e da área penal.

Das conclusões apresentadas no final do encontro por um dos magistrados consta o reconhecimento da "insuficiência de peritos, assessores, consultores e ferramentas específicas disponíveis para dar resposta em tempo adequado (...), nomeadamente em matéria urbanística, financeira e informática".

 

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