Perfil do sem-abrigo em Lisboa está a mudar

Crise está a deixar na rua famílias e pessoas cada vez mais novas e sem problemas de saúde mental ou dependências.

Foto
O facto de os sem-abrigo mudaram de sítio dificulda o acompanhamento dos casos Enric Vives-Rubio

O sem-abrigo típico de Lisboa tem vindo a mudar nos últimos anos, dando lugar a pessoas mais novas sem problemas de saúde mental ou de toxicodependência, disse à Lusa a directora da acção social da Misericórdia de Lisboa.

“Há uns anos podíamos dizer que o sem-abrigo típico de Lisboa era homem, com mais de 50 anos, e 80% tinha problemas de saúde mental e uma dependência acoplada”, adiantou Rita Valadas, que falava a propósito da Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas Sem-Abrigo.

Apesar de não haver dados concretos, porque ainda é uma realidade muito recente, “sentimos que começam a aparecer pessoas bastante mais novas, que não têm este espectro de doença mental ou uma situação de dependência, e já nos aparecem casais e até famílias que rapidamente tentamos retirar da rua”, disse a directora da Acção Social da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Rita Valada explicou que quando uma situação destas é detectada os técnicos da rede social agem de imediato. “Ainda existem alguns recursos e se as pessoas estiverem connosco na construção de um plano de intervenção pessoal ou familiar nós ainda temos algumas condições para resolver os problemas. As questões da dependência e da saúde mental são bastante mais difíceis de resolver”, comentou.

Quase 250 em Lisboa, dizem Censos

Os dados do Censos 2011 apontam para a existência de 696 pessoas sem-abrigo, das quais 241 encontram-se em Lisboa, um número que, segundo Rita Valadas, fica “muito, muito aquém da realidade”. “É muito difícil fazer uma estatística adequada”, porque os sem-abrigo não respondem, fogem à identificação e como nunca estão no mesmo lugar pode correr-se o risco de duplicar o registo ou não se identificar a pessoa.

Para uma melhor identificação desta população, foi lançada há quatro anos pelo Governo a estratégia nacional, que visava a criação de uma base de dados dos sem-abrigo e as condições necessárias para que ninguém tenha de permanecer na rua, mobilizando para isso todos os recursos disponíveis.

Na capital, a estratégia é coordenada pela SCML, com o apoio da Câmara de Lisboa e do Centro Distrital da Segurança Social, que constituem uma comissão tripartida que gere a rede social. O objectivo é que “as respostas sejam adequadas às verdadeiras necessidades que vamos sentindo e nas mudanças que este fenómeno vai tendo na cidade”, disse Rita Valadas.

O fenómeno “ainda não é tão forte como poderia ser porque tem havido uma tentativa de que estas situações não se prolonguem muito nas ruas, mas é verdade que já aparecem mais”. Rita Valadas adiantou que o problema social é “cada vez mais heterogéneo e muda cada vez com maior velocidade”, tendo as instituições de adaptarem-se e ser “bastante ágeis” na criação de respostas alternativas.

No caso dos sem-abrigo, Lisboa tem “de longe o maior número de pessoas sem tecto, mas as situações de vulnerabilidade são sempre mais sentidas nas grandes metrópoles”. Os dados do Censos indicam que 218 sem-abrigo se encontram na região Norte, 113 no Algarve, 66 no Centro do país, 25 no Alentejo, 22 na Madeira e 11 nos Açores. Os mesmos dados referem que 13 sem-abrigo tem menos de 13 anos e oito têm idades entre os 15 e os 19 anos. Há ainda 104 sem-abrigo com idades entre os 20 e os 29 anos e 248 têm idades entre os 30 e os 44 anos.
 

Sugerir correcção
Comentar