Pensar só uma vez

Pensar só uma vez pode ser a solução parcial do sofrimento que sentimos.

No último Spectator William Cook entrevista Bill Viola. Viola conta que foi estudar Zen para o Japão. O professor dele disse-lhe que "cinco minutos poderiam tornar-se em cinco horas". Cook comenta que "é uma boa descrição dos vídeos de Viola, que carrega muito tempo num curto fragmento".

Cansam-me muito (a desconfiança é cansativa) as lições que artistas ocidentais aprendem, com mágica rapidez e capacidade de sumarização, com mestres japoneses.

Mas acredito na história que Viola conta. Certo dia ele mostrou algumas pinturas dele ao mestre. Este deu-lhe imediatamente uma chapada na cara. Viola, surpreendidíssimo, perguntou "O que é que aconteceu? O que é que eu fiz?"

O mestre dele respondeu logo: "É informação a mais. É pensamento a mais!"

É verdade. É esse o vício, não digo ocidental, mas dos ocidentais que põem o ocidente em causa sem querer trocá-lo, trouxe-mouxe, por uma simplificação ignorante e gratuita do que nunca pode ser a riquíssima e benditamente contraditória civilização oriental.

Mesmo assim é preciso reconhecer que a nossa paixão e curiosidade pela variedade e pela relatividade nasce do nosso vício de pensar de mais. Gostamos de rever tudo o que fazemos. Lemos e revemos no dia seguinte. Não somos capazes de deixar as emoções falar sozinhas, à primeira, só com as poucas imagens ou palavras que nos pertencem.

Pensar só uma vez pode ser a solução parcial do sofrimento que sentimos. O melhor é sentir e seguir em frente.

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