Patriarca de Lisboa apelou a "vivência perfeita da única Páscoa garantida"

"Mesmo com férias e passeios nesta feliz quadra, nada nos evita as notícias tristes, nem nos dispensa de habituais cuidados", disse na homilia deste domingo.

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D. Manuel Clemente falou do dever da solidariedade Nuno Ferreira Santos

D. Manuel Clemente, patriarca de Lisboa, fez uma homilia muito virada para o interior da Igreja neste Domingo de Páscoa. Sem se debruçar sobre o estado do país, apontou a fé como esperança e a solidariedade como dever.

“Estamos aqui com o que trazemos em mente e porventura nos pesa na alma, e não podemos nem queremos esquecer”, começou por dizer o cardeal na cerimónia a que presidiu na Sé patriarcal. “Uns com saúde e outros enfermos, ou com doentes a seu cargo; uns com trabalho e outros sem o ter, numa sociedade que tarda a reconhecê-lo como condição indispensável de realização humana; uns acompanhados e outros sós, ou com dificuldade em constituir e manter a vida familiar.”

Dir-se-ia que, com aquelas palavras, o cardeal quis que os fiéis tivessem os pés bem assentes na terra: “Sim, estamos como estamos, e nem todos como queríamos ou devíamos estar”. E que se elevassem para encontrar esperança: “Nas vicissitudes duma existência frágil ou fragilizada, mas sempre mortal, o segredo dos baptizados é o destino de Cristo, que lhes é oferecido”.

O ex-bispo do Porto recordou “os ensinamentos” na Páscoa. Ao ver a pedra retirada do sepulcro, as ligaduras no chão, Pedro, o discípulo predilecto, acreditou que Cristo ressuscitara, sublinhou. “Caríssimos irmãos, é do que se trata agora e há-de ser connosco.”

“Olhando para onde olharmos, correndo para onde corrermos, não nos faltam sepulcros de esperanças e vazios de vida”, disse. “De perto ou de longe, dramas pessoais, tragédias de povos, riscos de mais guerras, cristãos perseguidos, horizontes curtos, bloqueados… Mesmo com férias e passeios nesta feliz quadra, nada nos evita as notícias tristes, nem nos dispensa de habituais cuidados.”

Importa, enfatizou, não esquecer “nunca” a presença de Cristo “nos outros”. Num apelo à solidariedade, citou o Evangelho: “Tive fome e deste-me de comer, tive sede e deste-me de beber, era peregrino e recolheste-me, estava nu e deste-me de vestir, adoeci e visitaste-me, estive na prisão e foste ter comigo. […] Sempre que fizeste isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizeste”. A esta "luz definitiva", pediu aos fiéis que façam da sua "presença reforçada, na Igreja e no mundo, a vivência perfeita da única Páscoa garantida".

Numa entrevista concedida a Manuel Vilas Boas e emitida este domingo pela TSF, o patriarca falou sobre a actual situação portuguesa. Defendeu que só graças às instituições sociais “as circunstâncias são menos gravosas”. E afirmou ter chamado a atenção de diversos responsáveis para a necessidade de a troika falar com as instituições sociais. “Se calhar não ouviu tanto quanto devia”, comentou.

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