Pasta da Colgate contém substância associada a cancro em animais mas cumpre regras europeias

O triclosan é um antibacteriano presente em medicamentos ou cosméticos. Infarmed não recebeu indicações de que o Colgate Total tem concentrações superiores ao permitido legalmente.

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SAUL LOEB/AFP

A pasta dentífrica Colgate Total contém, entre outras substâncias, o triclosan, um agente anti-séptico utilizado contra bactérias e que pode ser encontrado em medicamentos, desodorizantes ou cosméticos. Estudos norte-americanos revelam agora que a utilização do triclosan foi associada ao aparecimento de doenças cancerígenas em animais. Apesar da existência de triclosan na pasta de dentes, a concentração da substância cumpre as normas da União Europeia.

Os estudos são citados pela Bloomberg. Segundo o site de notícias, foi estabelecida uma ligação entre o triclosan e cancros detectados em animais, estando os reguladores do sector nos Estados Unidos a rever a segurança da substância nos seus vários usos.

O PÚBLICO contactou a filial da Colgate-Palmolive em Portugal, que remeteu mais esclarecimentos para um comunicado da empresa a divulgar ainda esta quarta-feira. Mas a companhia fez saber através dos seus escritórios em Nova Iorque que o Colgate Total é seguro e sublinha que o produto recebeu a aprovação da Food and Drug Administration (FDA, agência federal americana reguladora dos medicamentos), em 1997. No entanto, surgem agora dúvidas sobre a segurança da pasta de dentes.

A pedido da Bloomberg, três cientistas analisaram estudos recentes sobre o uso de triclosan. Nos estudos é indicado que foram registadas malformações em fetos em ratos de laboratório, o que representa alterações na função hormonal. Estes dados não foram levados em conta pela Colgate.

Os seres humanos são expostos diariamente a vários químicos que podem ter efeitos no corpo humano, o que torna praticamente impossível que uma determinada substância seja relacionada com uma doença, segundo o professor de Biologia na Universidade de Massachusetts, Thomas Zoeller, ouvido pela Bloomberg. Mas o professor alerta: “Quando temos estudos feitos em animais que sugerem o contrário, penso que estamos a assumir um grande risco”.

A Colgate argumenta, por seu lado, que a eficácia e segurança do seu produto têm como base 80 estudos clínicos realizados a 19 mil pessoas, cujos resultados são anualmente entregues à FDA.

Alguns produtos de cuidado oral, entre pastas de dentes e elixires orais, não têm o triclosan na sua composição. É o caso dos produtos da Procter & Gamble ou da GlaxoSmithLine, segundo garantias dadas pelas próprias empresas. Num dos casos a decisão de retirar a substância foi devido às preocupações de alguns consumidores quanto ao impacto que esta tem no ambiente.

Nos Estados Unidos, a FDA informa no seu site que o triclosan “não é actualmente conhecido como sendo perigoso para os humanos”. Mas a agência indica que “vários estudos científicos foram publicados, desde a última vez que a FDA reviu a substância, que merecem ser analisados”. A FDA cita, nomeadamente, estudos que mostraram efeitos nocivos em animais, mas sublinha que esses efeitos “nem sempre predizem efeitos nos humanos”. A agência fala ainda na possibilidade de o triclosan tornar as bactérias resistentes aos antibióticos.

“A FDA não tem, neste momento, provas suficientes sobre segurança para recomendar ao consumidor que altere o uso de produtos que contêm triclosan”.

UE exige limites máximos de concentração do triclosan
Na União Europeia, em 2010, a substância foi proibida na composição de materiais que estivessem em contacto com alimentos. Em Abril deste ano, Bruxelas restringiu a utilização de triclosan em cosméticos. Assim, é apenas permitida a sua presença com um máximo de concentração de 0,2% em elixires orais e de 0,3% em pastas dentífricas, sabonetes e pós faciais.

Segundo a página da Colgate, o Colgate Total tem como ingredientes activos na sua composição 0,300% de triclosan. “Mesmo em casos de exposição prolongada, não são esperados efeitos adversos sérios a partir do triclosan”, indica a marca na informação sobre o produto. Com base nos dados da empresa, o Colgate Total respeitas as regras europeias para a presença do triclosan.

A Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) confirmou, entretanto, em comunicado, que, até ao momento, não recebeu “qualquer alerta formal sobre a existência de produtos da marca Colgate Total com concentrações de triclosan superiores ao permitido legalmente”, através do Sistema Comunitário de Troca Rápida de Informações.

O Infarmed cita o Comité da Segurança dos Consumidores da Comissão Europeia para explicar que a legislação europeia relativa aos produtos cosméticos "especifica uma concentração máxima de 0,3% em relação à utilização de triclosan como conservante". Este "valor é considerado seguro" em pastas dentífricas, sabonetes de mãos, sabonetes corporais/geles de banho, desodorizantes, pós faciais e cremes correctores.

"Desta forma uma pasta de dentes para ser disponibilizada no mercado europeu poderá apresentar a substância triclosan numa concentração máxima de 0.3%", sublinha a nota.

Também a Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária (SPEMD) emitiu um comunicado sobre o assunto. "Com base na informação científica disponível actualmente, a SPEMD não considera haver motivo para desaconselhar a população a utilizar produtos que contenham triclosan nas concentrações permitidas e que sejam utilizados de acordo com as indicações dos fabricantes", afirma em comunicado citado pela agência Lusa.

Notícia actualizada às 21h54: Acrescenta comunicado da Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária.

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