"Parece que tudo é feito para nos pressionar”, reclama Joaquim, aluno do 9.º ano

Por comparação com 2014, houve menos sete mil alunos a fazer exame de Português. No final disseram que tinha sido fácil. O mesmo foi dito pelos do 11.º ano em relação à prova de Filosofia.

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Joaquim ficou um “bocadinho nervoso” quando entrou nesta segunda-feira de manhã numa das salas da Escola Salesiana do Funchal Gregório Cunha

Joaquim ficou um “bocadinho nervoso” quando entrou nesta segunda-feira de manhã numa das salas da Escola Salesiana do Funchal para fazer o exame de Português de 9.º ano.

Sabia a matéria. Tinha estudado. E não valorizava muito o peso que a prova teria nas contas finais da nota, mas, mesmo assim, sentiu um friozinho no estômago.

“Acho que é normal”, diz este aluno, que no próximo ano lectivo estará na Suécia, o país natal da sua mãe, para ali fazer o secundário. “Depois de tanto ouvirmos falar sobre os exames, depois de tantas aulas de preparação, penso que todos ficaram nervosos antes de começar”, acrescenta o rapaz de 15 anos.

O ambiente na sala também não ajuda à descontração dos alunos. Há todo um processo solene, estranho, na forma como é conduzido. São os exames que chegam num automóvel da PSP. É a chamada dos alunos, feita à entrada da escola. A entrega, já na sala, do cartão do cidadão para provar a identidade de cada um. É a declaração, assinada por eles, de que não levam objectos proibidos para a sala. São os dois professores, desconhecidos, que vigiam a prova. São os colegas que não conhece.

“Parece que tudo é feito para nos pressionar”, reclama Joaquim Homem de Gouveia.

Mas depressa o nervosismo desapareceu. Bastou olhar para a folha de teste. “Foi muito fácil, nada de extraordinário e como eu estava bem preparado o exame correu muito bem”, explica, sentado à entrada do colégio onde nesta segunda-feira, pelos corredores,  se multiplicavam os cartazes a pedir "silêncio".

Joaquim Homem de Gouveia também fala baixinho. Quase em silêncio. “Espero uma nota boa”, admite, dizendo que nas conversas que teve com os colegas a análise foi a mesma. “A minha turma toda achou o exame fácil.”

Também os representantes das duas associações nacionais de professores da disciplina estão de acordo – a prova, destinada aos cerca de 100 mil estudantes do 9.º ano foi “acessível” e até “interessante”, consideram.

A recém-criada Associação Nacional de Professores de Português (Anproport) chega a considerar “excelente” a selecção de textos da prova, um excerto da adaptação da Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, por Aquilino Ribeiro, e outro dos Lusíadas, "cuja temática, relacionada com a aventura, se cruza com a do último grupo do teste, em que se pede aos estudantes que imaginassem que num projecto de exploração ao fundo do mar encontravam um navio naufragado".

Edviges Ferreira, dirigente da Associação de Professores de Português (APP), não detectou falhas na prova e adivinha “classificações muito positivas”. “Especialmente”, sustenta, “devido à objectividade e clareza das perguntas e à adequação tanto ao programa como à faixa etária dos alunos”. Ambas as associações consideraram que as questões de gramática eram de fácil resolução

Mesmo assim a nota final que Joaquim terá a Português deverá manter-se no 4. Joaquim já sabia que não dava para subir, porque como o exame tem um peso de 30% na classificação final, mesmo que tivesse tudo certo não ia dar. “Mas vai dar para manter”, diz, olhando já para sexta-feira, dia do exame de Matemática.

“Espero mais dificuldades, pois foi assim nos testes intermédios em que o Português foi fácil mas a Matemática foi mais complicada”, recorda, admitindo que vai “estudar mais” para esse exame do que estudou para o desta segunda-feira.

O objectivo passa, novamente, por manter a nota. “Tenho um 5 e claro que não quero descer.” Por isso, nos próximos dias, vai estudar mais, mas sem dramatismo. “Sei que estou bem preparado, estudei o ano inteiro e não é um dia que vai estragar tudo”, garante.

A níval nacional o exame do 9.º ano foi realizado por 90147 alunos, menos 7.300 do que em 2104. Inscreveram-se 90.555. Na Madeira a prova foi realizada por 2518 alunos. 

Esta segunda-feira foi também dia de exame de Filosofia para os alunos do 11.º ano, como Tomás Ornelas. O filme foi praticamente o mesmo de Joaquim. Nervoso à entrada, satisfeito à saída.

“Acho que é uma violência a pressão que colocam sobre os alunos nestes exames. Principalmente, quando falamos de crianças do 4.º ano com nove anos”, critica o aluno da Escola Secundária Jaime Moniz, situada no coração do Funchal.  Preparou-se bem. Estudou muito. Teve explicações. Compensou. “Sim, correu bem, mas não é por isso que eu vou concordar com esta forma de nos avaliar”, afirma o estudante de 16 anos, que ainda não sabe o que quer ser quando for grande.

O exame de Filosofia foi realizado por 13.460 alunos. Tinham-se inscrito 14750. Na Madeira o exame foi feito por  35 alunos.

 

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