Para o ministério, valeu a pena ter salvo 600 alunos no 4.º ano

Na lista das 4605 escolas públicas e privadas, apenas num quinto das escolas a média foi negativa

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Miguel Manso

Pela primeira vez foram realizados exames nacionais no final do 1.º ciclo. Em Maio, 108.097 alunos do 4.º ano durante 90 minutos responderam a questões de Português.

Três dias depois, foi a prova de Matemática. Após serem conhecidos os resultados, 3856 estudantes de todo o país e das escolas portuguesas no estrangeiro ficaram a saber que não transitaram e foram convidados a repetir os exames na 2.ª fase, em Julho. Uma segunda oportunidade que implicou permanecer na escola mais três semanas, depois de as aulas terem terminado. Resultado: 20% dos alunos que teriam ficado retidos recuperaram. Em números absolutos, foram 652 estudantes. Para o Ministério da Educação e Ciência (MEC), este é um número significativo: um em cada cinco alunos, “considerando que à partida são alunos que têm maiores dificuldades, é uma recuperação significativa”. As escolas vacilam: Por um lado, “vale sempre a pena”. Por outro, “três semanas não são suficientes para recuperar um ano”.

Para a tutela, “apoiar os alunos na melhoria da sua aprendizagem e simultaneamente dar-lhes oportunidade de prosseguir o seu percurso escolar é um objectivo que não se mede em função de um número relativo. Haver mais de 600 alunos que podem transitar nestas circunstâncias é muito significativo, mas a opção teria sempre valido a pena mesmo que o número fosse inferior”. A verdade é que muitas escolas não conseguem recuperar os seus alunos. Em 712 agrupamentos de Portugal continental, 287 não conseguem a transição de nenhum aluno no final da 2.ª fase, ou seja, 40%.

No agrupamento de escolas Escaladas, Pampilhosa da Serra, onde 32 crianças realizaram exames do 4.º ano, nove (28%) ficaram retidas e não conseguiram recuperar na 2.ª fase. Tiveram apoio, mas não foi suficiente, reconhece o director Ricardo Silva, informando que cinco têm necessidades educativas especiais (NEE) e não deveriam fazer aquelas provas.

Também no agrupamento de Carrazeda de Ansiães aconteceu o mesmo com igual número de alunos, neste caso, todos com NEE, crianças que ficaram no 4.º ano e não transitaram entre as 33 que foram a exame. “Para meninos com NEE, não vejo que mais dias de actividades lectivas possam ajudar. Se não adquiriram competências ao longo do ano, dificilmente conseguirão fazê-lo”, avalia Jerónimo Pereira, director do agrupamento, para quem é preciso avaliar se aquelas crianças deverão voltar a ser submetidas a exame nacional.

Na EBS de Macedo de Cavaleiros – a primeira escola pública no ranking do 4.º ano que mais provas fez (277; no ranking global está em 2844.º lugar, com uma média de 2,64, numa escala de 0 a 5) –, o período de aulas para preparar a 2.ª fase foi cumprido e, no caso dos alunos com NEE, estiveram dois professores em sala. “Se for um aluno que teve uma quebra no dia do exame, pode recuperar na 2.ª fase; um aluno com dificuldades permanentes dificilmente consegue”, defende Cláudia Silva, adjunta da direcção. Dos 19 que ficaram para a 2.ª fase, só seis transitaram.

“Tinham de chumbar”
O ministério não concorda: “Esta possibilidade é importante, pois o reforço da aprendizagem realizado durante o período de acompanhamento extraordinário pode ainda contribuir para um início da frequência do ciclo seguinte dispondo de uma aprendizagem mais sólida.”

António Ventura, director do agrupamento Frei João de Vila do Conde está de acordo. Embora as quatro escolas de 1.º ciclo que fazem parte do agrupamento tenham resultados acima dos 2,50, o responsável sabe identificar a escola que tem mais crianças retidas. Das 27, só cinco transitaram no final da 2.ª fase. “Estamos a falar de alunos que tinham de chumbar”, começa por dizer o director, acrescentando que a taxa de insucesso no 4.º ano é mais alta do que a média nacional porque “é preciso haver rigor e prefiro que chumbem no 4.º ano e cheguem bem preparados ao 5.º”, diz. Há vários factores que contribuem para o insucesso: a baixa escolaridade dos pais, o número de alunos com acção social, a falta de assiduidade, mas o agrupamento está apostado em mudar, com aulas de apoio para aqueles estudantes.

Para o director, a 2.ª fase permite que mais alunos transitem. “Embora exija mais esforço às escolas, tudo o que seja dar mais possibilidades aos alunos é positivo.”

Dos 712 agrupamentos de Portugal continental, só em 100 (14%) os alunos passam todos à primeira. É o caso do agrupamento Diogo Cão, em Vila Real, que levou 323 a exame. Apesar de as provas “terem sido muito complicadas”, de os alunos terem sido transportados e vigiados por professores que não conheciam, os resultados foram bons, mas “podiam ter sido melhores”, salienta Elisabete Leite, coordenadora do 1.º ciclo, responsável por 14 básicas que distam, algumas, 20 quilómetros da escola-sede – daquelas, apenas quatro tiveram médias abaixo do 2,50.

São 42 os agrupamentos que conseguem salvar metade dos alunos que vão à 2:º fase.

Para a tutela, esta opção – que vai repetir-se neste ano lectivo para o 4.º e pela primeira vez no 6.º –, não implica um acréscimo de custos, uma vez que se esta prova não existisse teria de ser feita uma 2.ª chamada.

Escolas privadas à frente
É um aluno da Sala de Apoio de Carvalhal Formoso, do Agrupamento de Escolas de Pedro Álvares Cabral, em Belmonte, que lidera a lista dos resultados dos exames do 4.º ano, o ranking 1 (R1). A média conjunta de Português e de Matemática é de 4,5 (numa escala de 0 a 5, sendo que 2,5 é positiva). O director David Canelo estava à espera de mais: “É um aluno bastante inteligente.” Em Carvalhal Formoso, já não há escola mas “sala de apoio”, onde estudam dez alunos dos vários anos de escolaridade, acompanhados por um único professor.

Segue-se o Colégio Paula Frassinetti, em Lisboa, onde seis estudantes concluíram o 1.º ciclo com uma média de 4,33 nas duas provas. A lista de 4609 escolas, públicas e privadas, fecha com duas que levaram um único aluno a exame, a de Francos, em Sintra; e a de Paradinha, em Viseu. Nos dois casos, a média foi de 1 valor. Ao todo, existem 62 escolas que levam apenas um aluno a exame. Destas, 29 obtêm média positiva, e só nove são privadas (sete destas não alcançam a positiva).

Mas destas não reza o ranking 2 (R2) de que fazem parte 1441 escolas, ou seja, a lista que é feita com base nos estabelecimentos que fazem 50 ou mais provas (ver quadro). Neste caso, é o Colégio D. Diogo de Sousa, Braga, que tem lugar de destaque na primeira posição. Ali foram realizadas 218 provas e a média foi de 4,08. Seguem-se nove privadas até aparecer a primeira pública, a Escola Básica Conde Ferreira, Fafe, com 50 provas e uma média de 3,82, em 11.º lugar; seguida da EB Vildemoinhos, Viseu, com 52 provas, média de 3,80. E as privadas voltam a correr da 13.ª à 22.ª posição.
No fim da lista, está uma pública, a EB1 Maria da Luz de Deus Ramos, em Lisboa, cujos 37 alunos obtiveram 1,62, colocando a escola em 4573.º (R1), 1441.º (R2). A última privada é o Colégio Maria Pia, também em Lisboa, onde foram realizadas 62 provas, com uma média de 1,87. A escola ficou em 4523.º (R1) e em 1434.º (R2).

Neste que foi o primeiro ano dos exames de 4.º ano, até 2011/2012 os alunos realizavam provas de aferição, a média nacional de Português foi negativa (49%) e a de Matemática situou-se nos 57%, na 1.ª fase. Quanto aos alunos que foram à 2.ª fase, apenas 7% tiveram nota positiva a Português e 20% a Matemática.

Em apenas um quinto das escolas a média dos dois exames foi negativa (da lista de 4605 escolas, 1132 estão naquela situação). Apesar das médias baixas, a taxa de retenção após a 1.ª fase é de 3,6% e depois da 2.ª é de 2,96%. Foi, segundo a tutela, a menor taxa de retenção desde 2000. Portanto, conclui o MEC, apesar de toda a polémica que envolveu a realização dos exames no 4.º ano, a “opção por este modelo foi acertada”.

Leia mais no suplemento de 48 páginas sobre os Rankings com a edição impressa deste sábado.

Especial Rankings em http://www.publico.pt/ranking-das-escolas

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