Países Menos Desenvolvidos concentram 40% da pobreza, o dobro de há 20 anos

Os 48 países mais pobres estão a ficar cada vez mais para trás.

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Moçambique é um dos seis países da CPLP que está entre os menos desenvolvidos Manuel Roberto

Os 48 Países Menos Desenvolvidos (PMD) estão a ficar cada vez mais para trás, concentrando agora quase 40% da pobreza extrema do mundo, mais do dobro do que concentravam nos anos 1990, conclui um relatório divulgado nesta terça-feira.

Publicado pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (CNUCED), o documento conclui que a pobreza do mundo está cada vez mais concentrada nesta lista de 48 países, criada pela ONU em 1971 para ajudar os países que enfrentam obstáculos mais exigentes no seu desenvolvimento económico e social.

Entre os 48 PMD há seis países membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa: Angola, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, e Timor-Leste.

Segundo o relatório, embora a população destes países tenha aumentado apenas de 9,7% da população mundial para 12,8% desde 1990, a proporção da pobreza extrema concentrada nos PMD mais do que duplicou, de menos de 20% para quase 40%.

No mesmo período, o peso dos PMD no número de pessoas que vive sem acesso a eletricidade aumentou de 31,8% para 53,4% e aumentou de 20% para 43,5% a proporção de pessoas sem acesso a água.

"Estes são os países onde a batalha pela erradicação da pobreza será ganha ou perdida", disse o secretário-geral da CNUCED, Mukhisa Kituyi, citado num comunicado da organização.

Em seis PMD, a taxa de pobreza extrema está entre 70% e 80% e em outros dez estados a taxa fica entre os 50% e os 70%.

Tudo isto deixa muitos dos PMD presos na armadilha da pobreza, um círculo vicioso em que a pobreza leva a baixos desempenhos na saúde e na educação, prejudicando a produtividade e o investimento e impedindo o desenvolvimento sustentável necessário para reduzir a pobreza, escrevem os autores do relatório.

Os países só saem destes círculos viciosos com ajuda internacional, a nível financeiro, comercial e tecnológico e é para isso que existe a categoria dos PMD.

O objetivo final é que os países consigam crescer e sair da categoria, cumprindo uma série de requisitos pré-definidos.

No entanto, nos 45 anos de existência desta classificação dos PMD, apenas quatro - o Botsuana, em 1994; Cabo Verde, em 2007; as Maldivas, em 2011, e Samoa, em 2014 - conseguiram graduar-se, o que demonstra a enorme divergência entre o ritmo de desenvolvimento dos países em vias de desenvolvimento.

O fosso entre o rendimento per capita dos PMD e dos outros países em desenvolvimento, por exemplo, tem aumentado consistentemente desde 1981, alerta Mukhisa Kituyi no prefácio do relatório.

Em 2011, a comunidade internacional definiu como objetivo que metade de todos os PMD cumprissem os critérios para a graduação até 2020, mas a menos de metade do caminho esta meta parece inalcançável.

Desde 2011, apenas um país (Samoa) se graduou e só três outros países (Guiné Equatorial, Vanuatu e Angola) estão em linha para alcançar a graduação nos próximos anos.

O relatório estima que só 13 outros países consigam cumprir os critérios até 2021, muito menos do que os necessários para cumprir o objetivo.

O documento alerta ainda que a graduação é só um primeiro passo no sentido do desenvolvimento de longo prazo e sublinham que, mais importante do que cumprir os critérios, é preciso que os países façam mudanças estruturais para resistirem quando deixarem de receber as ajudas a que têm direito enquanto PMD, algo que os autores chamam "graduação com impulso".

"A graduação não é um posto de vencedor ou uma corrida para sair da categoria PMD. É uma primeira etapa na maratona do desenvolvimento sustentável e de longo prazo. Por isso, a forma como um país se gradua é tão importante como quando se gradua", escreve Kituyi.

Segundo os autores do relatório, muitos dos países em linha para se graduarem não conseguirão uma "graduação com impulso".

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