Os grandes exemplos

Dar muito para receber pouco: mas é assim que é.

Num documentário sobre o Hotel Copacabana Palace entrevistaram um cabeleireiro de São Paulo que passa lá todos os fins-de-semana. "Onde é que arranja dinheiro para isto?", perguntou, com deselegância e snobismo, o invisível entrevistador.

O cabeleireiro riu-se e respondeu: "Olhe, trabalho entre 14 e 16 horas por dia, todos os dias, excepto ao fim-de-semana". Depois rematou, com deliciosa ironia: "é esse o segredo".

Ao longo da minha vida nunca conheci profissão que trabalhasse tanto como a dos cabeleireiros. São os únicos lusófonos que merecem comparar-se com os japoneses.

Nunca ouvi falar de um grande cabeleireiro que trabalhasse pouco, fosse preguiçoso ou que não estivesse sempre a querer melhorar-se.

Trabalhar muito continua a ser o segredo. É também o segredo mais difícil de espalhar: ninguém quer saber. Aquilo que as massas querem ouvir hoje (senão sempre) é o contrário: como singrar, trabalhando pouco. 

Cada vez é maior, na mentalidade vigente, o divórcio entre o esforço e a recompensa. Os idiotas querem que "o segredo" seja uma fórmula idiota como "seja criativo" ou "acredite no seu sonho".

A verdade, bonita, é que trabalhar naquilo que se faz bem (mesmo que não seja aquilo que mais se gostaria de fazer) ainda é a melhor maneira de passar a vida, sem faltar o mínimo financiamento para passá-la da maneira que se quer.

O segredo é o fado: é dar para receber. Dar muito para receber pouco: mas é assim que é.

Vivam os cabeleireiros!

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