Os actos do Vaticano contra a pedofilia

A complacência para com a pedofilia na Igreja parece ter os dias contados por acção do Papa.

Em Julho de 2013, o Papa Francisco assinou um decreto reforçando as punições contra crimes de pedofilia no interior da Igreja Católica, referindo-se-lhes como “abomináveis delitos”. No início do ano seguinte, porém, o Comité dos Direitos da Criança da ONU veio lamentar a “passividade” do Vaticano, mostrando-se “profundamente preocupado” por este “não reconhecer a extensão dos crimes cometidos e não tomar as medidas necessárias para tratar de casos de abusos sexuais de crianças e proteger estas crianças, não aplicando políticas e práticas que levam ao julgamento e punição destes abusos”. Isto em Fevereiro. Em Julho, um ano após a assinatura do tal decreto, o Papa recebeu no Vaticano uma delegação da Comissão Católica Internacional para as Crianças, pedindo publicamente “perdão” às vítimas de abusos sexuais por parte de membros da Igreja. Ficou a faltar o que lhe tinha sido pedido pelo comité da ONU: levar a julgamento os religiosos pedófilos. Esse passo foi dado há dias e constitui uma mudança significativa na atitude do Vaticano para com a pedofilia: o Papa Francisco ordenou a prisão domiciliária de Jozef Wesolowski, ex-núncio na República Dominicana que, depois de afastado do sacerdócio e condenado por um tribunal canónico, será julgado num tribunal criminal fora do Vaticano. Esta medida, inédita, pode ser uma forma de Francisco mostrar que o decreto de 2013 tem consequências práticas, não é uma lei feita para sossego das consciências eclesiais. Mas o Papa não se limitou a agir contra o ex-núncio acusado de pedofilia; na sequência do seu processo, afastou agora o bispo de Ciudad del Este, no Paraguai, acusando-o de má administração e de encobrimento de um padre acusado de pedofilia nos Estados Unidos. Se há, como há muito se assegura, uma rede pedófila no interior da Igreja que contava com uma dissimulada ou descarada complacência, os seus dias podem estar contados, a julgar pelos passos agora dados pelo Papa Francisco.

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