Ordem alerta que farmácias vendem antibióticos para animais sem receita do veterinário

No Dia do Animal, Ordem dos Veterinários mostra-se preocupada com mau uso destes medicamentos, que também já estão a criar resistências nos humanos.

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Na maior parte dos casos as farmácias não pedem sequer para ver a receita Paula Abreu

A esmagadora maioria das farmácias de Lisboa e Porto vende antibióticos para animais sem receita do médico-veterinário, concluiu um levantamento realizado para a Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) que será divulgado nesta sexta-feira, Dia do Animal.

Segundo este órgão representativo dos veterinários, o levantamento foi realizado por “uma empresa independente” depois de “um alargado conjunto de denúncias” dos seus membros, no sentido de que estariam a ser praticados certos actos por parte das farmácias, nomeadamente a possível prescrição e venda de medicamentos de uso veterinário sem receita médica, como antibióticos.

O estudo, que decorreu entre os meses de Julho e Setembro e incidiu sobre as cidades de Lisboa e Porto e zonas limítrofes, indicam que, em média, “cerca de 92% das farmácias” nestas regiões “vendem antibióticos para animais sem solicitar receita médico-veterinária”.

Em média, apurou o estudo a cujas conclusões a Lusa teve acesso, “87% das farmácias vendem antibióticos sem qualquer solicitação de receita médica e, destas, mais de 50% sugeriram o tratamento para o animal e escolheram o antibiótico que venderam”. A OMV classifica a situação como muito grave e alerta para o impacto que estas práticas terão na saúde animal e humana.

Com este tema na agenda, a bastonária da OMV será recebida pelo director-geral da Saúde nesta sexta-feira, dia em que se assinala o Dia do Animal e do Médico Veterinário.

Problema de mau uso também nos humanos
Aliás, o tema dos antibióticos tem estado na agenda das autoridades de saúde em Portugal, já que o país está entre aqueles onde a resistência das bactérias a estes medicamentos mais tem aumentado entre humanos. Em Fevereiro, o Governo atribuiu mesmo o estatuto de programa nacional prioritário às infecções e às resistências aos antibióticos e a Direcção-Geral da Saúde comprometeu-se a estar mais atenta ao que os médicos prescrevem.

Nos relatórios do Sistema Europeu de Vigilância da Resistência aos Antimicrobianos (EARS), Portugal surge, ano após ano, no grupo dos dez países europeus que mais consomem antibióticos. Esse consumo excessivo será, precisamente, um dos principais alvos do programa nacional prioritário. Sabe-se que dois terços das prescrições de antibióticos são feitas em ambulatório, fora de ambiente hospitalar, nomeadamente em centros de saúde.

Por outro lado, Portugal continua também com um dos valores mais elevados entre 28 países de uma perigosa bactéria conhecida por MRSA (Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus) e associada a infecções adquiridas em meio hospitalar.

A resistência aos antibióticos é um dos mais preocupantes problemas de saúde pública e, em grande parte, criado pelo uso e abuso desta arma terapêutica. Os doentes infectados com estas resistentes bactérias têm opções limitadas de tratamento, exigindo um maior esforço (financeiro e não só) dos sistemas de saúde. Muitas vezes resultam em estadias prolongadas nos hospitais e mesmo em morte.

Portugal destaca-se nos vários mapas coloridos apresentados pelo ECDC para retratar as resistências. Porém, o vermelho mais carregado surge com especial relevo no mapa que diz respeito às resistências a MRSA. Apesar de uma tendência geral para diminuição deste problema na Europa, Portugal mantém indicadores preocupantes desta bactéria resistente apresentando valores superiores a 50%. No mapa da MRSA, Portugal e a Roménia são os únicos países com mais de 50%.

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