“O tabaco não nos faz ser melhores, mais interessantes nem mais amigos”

Associação Portuguesa de Luta contra o Cancro do Pulmão vai andar durante o mês de Novembro por cem escolas de Lisboa e Porto a alertar os adolescentes para os malefícios do tabaco.

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Daniel Rocha

Uns fumam, outros já experimentaram, alguns nunca tocaram num cigarro. Vinte e seis adolescentes do 9.º ano, da Escola António Carvalho Figueiredo, em Loures, estão sentados em círculo, a participar numa sessão dinamizada pela Pulmonale – Associação Portuguesa de Luta contra o Cancro do Pulmão, que tem como objectivo sensibilizar os jovens para os malefícios do tabaco.

“O que retirei desta sessão? Que o tabaco não nos faz ser mais ou menos pessoas, não quer dizer que a pessoa que fuma seja mais do que eu, mais interessante, mais amigo do que eu”, diz Catarina Bernardo, 14 anos.

Esta é apenas uma das acções promovidas pela Pulmonale, no do Mês do Cancro do Pulmão – ao longo de Novembro, a associação vai passar por cerca de cem escolas da zona de Lisboa e do Porto, com sessões para os 2.º e 3.º ciclos. A psicóloga clínica Dora Pinto frisa que se trata de um trabalho de prevenção que pretende, entre outros aspectos, desmistificar “a ideia de maturidade” que os adolescentes têm do tabaco.

Durante cerca de 40 minutos, Dora Pinto desafia os jovens para um jogo em que se caracterizam a si próprios e aos colegas. O objectivo passa não só por reflectirem até que ponto deixam que o olhar do outro se sobreponha ao deles mas também perceberem que, quando são desafiados a falar das suas próprias qualidades e competências, e das dos outros, o tabaco nunca é considerado. O que eles focam é se gostam de dançar, ouvir música, sair com amigos, se são sociáveis, tímidos, entre outros traços. 

Neste grupo, com jovens entre os 14 e os 16 anos, há quem tivesse começado a fumar entre os 11 e os 12. Um adolescente que diz que começou porque no meio onde se movimenta toda a gente o faz e uma miúda recorda que começou porque teve dificuldades quando mudou de escola. Também há quem tenha sido encorajado por amigos a experimentar, mas reflectiram sobre o dinheiro que se gasta, o “mal que faz” e não repetiram.

Já Catarina Bernardo diz que não tem “curiosidade nem vontade”: “Mesmo que experimentasse, não ia ser uma coisa de que gostasse, não quero isso para a minha vida. As pessoas que o fazem deviam pensar antes nas consequências, não têm amor à vida, não se importam se vão viver mais ou menos anos…” Mariana Batista, 14 anos, acrescenta: “Gasta-se montes de dinheiro, é caro, faz mal ao ambiente, polui, as pessoas ficam mais feias, mais velhas, tudo no tabaco é mau.”

O médico e presidente da Pulmonale, António Araújo, sublinha a importância deste tipo de projectos educativos que trabalham “competências psicológicas, comportamentais e sociais”.

A psicóloga Dora Pinto também realça que o exemplo dos pais, dos irmãos mais velhos, dos professores, entre outros “modelos de referência”, não deve ser menorizado: “A melhor prevenção começa na infância, em casa, e passa pelo exemplo. Há uma certa tendência para seguirmos as referências dos nossos pais ou de outras figuras que nos são significativas, as figuras cuidadoras. Podem ser os pais, os avós, os tios…” Apesar de defender que o ideal é que estas pessoas não fumem em frente das crianças, Dora Pinto ressalva que, se tal acontecer, continua a valer a pena conversar com os jovens “sobre o impacto negativo” do tabaco.

Antes de lhes adiantar que a próxima sessão vai ser sobre “aprender a dizer não”, Dora Pinto pergunta-lhes o que é que pode levar alguém da idade deles a ter um comportamento tabágico. Embora alguns dos jovens que puseram o dedo no ar já tenham começado a fumar, de uma forma geral a turma tem as respostas na ponta da língua: influência, curiosidade, ansiedade, convívio, integração, e necessidade de pertença.
 

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