O que sabemos

Sabemos que vamos morrer e que estaremos mortos tanto tempo como não estivemos à espera para nascer.

É banal dizer-se que a vida é um intervalo ou uma passagem ou um instante. Não é. A vida é uma excepção generosamente comprida à regra nem triste nem alegre da inexistência.

A vida está para o nada como o planeta Terra está para o sistema solar a que pertence. Sim, pode haver vida noutros planetas. Mas será uma vida que vale a pena viver? Ou que apenas vale a pena estudar?

Sabemos que temos muito tempo de vida: muito mais do que precisamos. O direito à preguiça e à procrastinação está consagrado na nossa vida e faz logo, à partida, parte dela.

Sabemos que somos obrigados a pensar, errada e repetidamente, que o tempo em que estamos vivos é importante. E que as nossas noções de declínio ("dantes é que era bom; os jovens de hoje não sabem o que perdem") são lugares-comuns de todas as gerações antes de nós.

Sabemos que não há ninguém que não envelheça, desde o bebé que nasceu neste segundo até ao velho que, por ter morrido agora mesmo, deixou de envelhecer.

A vida é uma eternidade, por muito que seja bonito fingir o contrário. Chega e sobra para o que queremos fazer. A oportunidade de existir é-nos oferecida. O resto é merda ou ouro.

Sabemos que estamos cá para cá estar. E que não haverá segunda oportunidade. O luxo é saber que podemos enganar-nos. É saber que podemos perder tempo. O tempo é o luxo que a nossa vida não só desrespeita como desmerece.
 
 

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