O pão de Deus

O melhor pão que já comi na vida foi comido anteontem à tarde. Embora a revista Visão já tenha publicado o nome do grande senhor que o faz, eu não me arrisco a repeti-lo. Há para aí organizações cujo objectivo é matar a boa vontade, a excelência desburocratizada e o artesanato saudavelmente anárquico e altruísta.

Nem sequer o conhecemos. Ele deixa, de vez em quando, os pães numa bancada, juntamente com outras novidades da horta dele.

Cruzámo-nos com um casal que já não vive sem o pão dele há anos, com dois filhos pequenos, tão saudáveis e alegres como os pais.

Cada pão de forma, feito sem forma, custa dois euros. É feito com farinha de trigo da Emilio Esteban, uma harinera espanhola ecológica e gastronomicanente séria. Pelo menos é da Península Ibérica. E é impecavelmente orgânica. Enquanto os nossos pães (mesmo os integrais) vêm lá de muito longe, desde que a Península percebeu que saía mais barato importar os cereais do que produzi-los.

O pão é espantoso. Consigo cortar as mais finas fatias que alguma vez cortei. O cheiro e o sabor têm o travo azedo dos melhores pães alentejanos e algarvios: que são apenas, pela minha contagem ao longo das décadas, dois ou, com a melhor das vontades, três.

É tão íntegro o pão que conseguimos cortar fatias finíssimas para comer mesmo assim ou torrar — e dividir em dois, para quem está a querer cortar nos hidratos de carbono, por ser tão gordo como este pão é bom.

Prometo falar com ele, a ver se o divulgo.

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