O novo Inverno

Dorothy Parker, quando estava no meio de uma conversa e tocou o telefone, interrompendo-a rudemente, desabafou "what fresh hell is this?" Que inferno novinho em folha me espera? Qual é o pesadelo, acabadinho de nascer, que agora chama insistentemente por mim?

O Inverno novo de 2014 tem, até aqui, sido soalheiro, brilhante e mentiroso com todos os dentes afiados que tem na boca gelada, à espera de nos dar o beijinho da morte.

Dezembro engana muito. O Natal é colaboracionista. Os campos estão verdes e cheios do amarelo descontrolado das azedas. Passa-se, diante dos nossos olhos de janelas fechadas dos carros onde andamos, uma Primavera ainda mais desordenada e clorofílica do que a dita cuja.

A primeira semana de Inverno é um embuste. Estão à nossa espera meses terríveis de frio, chuva e falta de luz e de calor. Janeiro e Fevereiro: dêem um passo em frente. Venham confessar-se. Admitam que não é coisa boa que aqui vos trazem.

O fim do ano também ajuda a ilusão de se terem acabado os males. Mentira. O dia 31 de Dezembro é dez dias pior do que o princípio do Inverno e o primeiro dia de 2015 é um dia inteiro pior do que a véspera do ano novo.

O novo Inverno só passa dez dias em 2014: os dias melhores. Não se deixe enganar por este trailer esperançoso. As festas do Natal, do Ano Novo e do Dia de Reis, com todas estas maiúsculas completamente fascistas, foram feitas para nos enganarem com o mais estúpido e menos plausível dos optimismos.

 

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