O mar este ano

No domingo as praias estavam cheias de pessoas, como se fosse Verão. Às três da tarde estavam 22 graus na areia e 15 dentro de água.

A princesa do mar mergulhou logo de corpo inteiro como quem volta a casa. Emergiu com um sorriso de satisfação, o Inverno não só perdoado como esquecido. "Se não tivesse deixado de vir à praia", informou a Maria João, "tinha tomado banho todos os dias".

Eu entrava como um matarruano assaltado, de braços levantados no ar, mergulhando um centímetro de pele por quarto de hora, como se impelido pelo cano da pistola, ao ponto de me ver incapaz de reprimir séries repetitivas de observações inteligentes como "está tão fria... fria, fria, fria... tão fria que está... ai que fria..."

Até ao ano passado eu era a sereiazinha do casal. Era eu, graças ao meu fato secreto de banha de foca (que faz com que eu pareça gordo a quem olhe para mim desatentamente), que mergulhava primeiro na água do mar, por muito fria que estivesse.

Mas era uma posição temporária, cedida pelos contratempos da Maria João. Foi por isso uma alegria vê-la tomar à minha frente o primeiro banho do ano de 2014. Foi só por causa do exemplo dela que, passada uma boa meia hora, também tomei o meu. Todos os dias ela inspira-me de uma maneira diferente. Dá-me oxigénio, ideias, ousadia e vontade de ser mais parecido com ela.

Havendo amor, tudo se torna num prazer ou numa preparação para ele. Fazermos as coisas juntos torna-se numa extensão de fazermos amor.

Sugerir correcção
Comentar