O Fuso eterno

O Fuso é o oposto de um restaurante satisfeito.

Fomos à Arruda dos Vinhos almoçar uma posta de bacalhau no Fuso. Como sempre, perdemo-nos e ficámos estarrecidos com a boniteza daquelas terras onde a Primavera é furiosa e os passarinhos agem como se mandassem naquilo tudo: uma máfia de peitinhos gordos e asas curtas.

Há sete anos que não íamos lá e foi exactamente como há sete anos. A consistência é a mais difícil das virtudes restauradoras, mas o Fuso nunca falha. O bacalhau é sempre muito bom e muito bem assado. As batatas são aquelas amarelas e rijas que desapareceram da região de Lisboa no século passado.

O bacalhau é temperado com azeite e alho cru, como deve ser. Ainda não chegou lá a moda triste de fritar o alho no azeite quente. Uma posta gigantesca, que dá para três pessoas, custa 37 euros. Enchemos as barrigas e ficou metade.

O chouriço e a morcela de arroz que servem como entrada são os melhores que conheço. O caldo-verde é mesmo caldo-verde. Nada é pretensioso ou supérfluo. Está tudo certo. As pessoas estão lá contentes e à vontade. O pessoal é afável e cúmplice.

Falámos com o grelhador – um sábio e heróico brasileiro que elogiou o mestre português (que assa aos domingos) e o colega, também brasileiro – e ficámos comovidos pelo entusiasmo dele.

O filho do fundador está sempre atento, observando as mesas como se tudo pudesse correr mal. Tudo corre bem. O Fuso é o oposto de um restaurante satisfeito. Tem medo de deixar de ser o que é. É por isso que consegue continuar a ser.

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