O filme de 24 horas: do parque ao tribunal

Houve polícias feridos, jovens detidos, um menor atacado com uma chave-de-fendas. Breve cronologia dos acontecimentos no Parque das Nações, em Lisboa.

Quarta-feira à tarde, encontro no Parque
O encontro fora organizado através das redes sociais. Muitos jovens da área metropolitana de Lisboa e margem Sul vêm de comboio, saem na estação do Oriente e usam o Centro Comercial Vasco da Gama como corredor de passagem para chegar à Pala do Pavilhão de Portugal, onde é suposto acontecer o meet.

Na perspectiva da direcção do centro comercial, nada de anormal se passa nesta fase, é uma tarde igual a outras com eventos no Parque — ou seja, há mais gente de um lado para o outro. A diferença é que hoje não há nada no MEO Arena. Mas o acontecimento — um meet convocado pela Internet — nem sequer é inédito nas imediações.

A PSP reforça o policiamento. É o procedimento comum perante um aumento anormal do número de pessoas, fará saber. Pelas 17h30, os cerca de 600 jovens começam a dispersar, preenchem todo o passeio central da Alameda dos Oceanos, aproximam-se da entrada do centro comercial. Vários acabam por envolver-se “em alguns focos de desordem, com correrias constantes”, segundo a PSP num comunicado que será emitido horas depois. O número de 600 jovens também será avançado pela PSP.

19h00, ânimos aquecem
Pedro Bandeira Pinto, director do Vasco da Gama, diz que no interior do edifício só há registo de problemas pelas 19h. É aí que um grupo de cerca de 20 jovens, talvez menos, se desentendem junto a uma fila de caixas do Continente: um espeta uma chave-de-fendas nas costas de outro. O INEM é chamado e leva o rapaz com dois ferimentos nas costas para o hospital.

A PSP é chamada também. “A PSP decidiu que era importante que os jovens que estavam no centro comercial saíssem”, receando, eventualmente, que houvesse mais incidentes, conta Pedro Bandeira Pinto. Afinal, fora do centro, havia muitos jovens. A sequência de acontecimentos descrita pelo comando metropolitano de Lisboa é outra: dezenas de jovens invadem os corredores do centro comercial. “Começaram a correr desenfreadamente, entrando em algumas lojas.” Há pedras a serem atiradas a polícias. E insultos aos mesmos.

Nesta altura um menor de 15 anos é agredido com uma chave-de-fendas, prossegue. Duas adolescentes de 16 e 17 anos roubam outra de 15 com recurso a arma branca. A PSP faz “um varrimento”, para retirar os jovens dos corredores. À RTP, uma funcionária de uma loja do centro diz que viu centenas de jovens a correr no edifício.

Já a direcção do centro comercial diz que não houve nem jovens a correr, nem roubos, nem actos de vandalismo e que o “varrimento” foi decidido depois do rapaz ser ferido com a chave-de-fendas. “As correrias de que falam a notícias podem ter acontecido no exterior. Não posso dizer o que se passou fora do Vasco da Gama”, diz Bandeira Pinto. Certo é que quatro jovens entre os 16 e os 23 anos são detidos (e levados para a 40.ª esquadra da PS) e cinco polícias sofrem ferimentos.

Quinta-feira, 14h, jovens em tribunal
Pelas 14h20 o comando metropolitano emite o comunicado onde explica o que se passou na quarta e informa que as detidas estão a ser presentes no Tribunal de Pequena Instância Criminal e os detidos no Tribunal de instrução Criminal. Mais: os polícias que tinham precisado de tratamento receberam alta. A meio da tarde, os jovens são libertados. Indiciadas por posse de arma branca, às duas raparigas é decretado termo de identidade e residência enquanto decorre o processo. Os dois rapazes serão alvo de julgamento sumário, no dia 25, acusados de resistência e coacção sobre funcionário. A.S./M.J.L./N.F./A.H.

Sugerir correcção
Comentar