O dia que volta

Não há nada no futuro que seja remota ou sequer discutivelmente melhor do que ser jovem.

Parece que foi quinta-feira ainda anteontem. Mas hoje é quinta-feira outra vez.

O meu pai avisou-me, quando eu era muito pequenino e me parecia que cada dia das férias do Verão durava um mês inteiro à espera que acabasse, que o tempo passava cada vez mais depressa conforme o pouco tempo de vida que nos faltava.

É verdade. O que é difícil é convencer as pessoas novas a não apostar no futuro. Não há nada no futuro que seja remota ou sequer discutivelmente melhor do que ser jovem.

Toda a vida é um instante — até para os velhos, que vão morrer. Para os jovens, que ainda têm a sorte de ter uma vida ridiculamente chamada "comprida", o aviso ainda é mais urgente.

Sejam egoístas. Não pensem nos outros, a não ser que haja alguém por quem estejam apaixonadas ou apaixonados. Ou de quem sejam sincera e agradavelmente amigos ou amigas.

As semanas tornam-se em martírios e cada um deles tem um alívio que lhe corresponde. Trabalhar só faz sentido se, através do trabalho, conseguimos comprar tempo para nos divertirmos.

A liberdade e o tempo livre (diabolicamente disfarçado através do estúpido plural "tempos livres") são os maiores tesouros que não possuímos; que temos de lutar para conseguir.

Cada dia que volta obriga-nos a enfrentarmos a nossa temporalidade. Estamos cá tão pouco tempo que só um ingrato mal-educado perderia tempo a indicar-nos as "melhores" maneiras de passá-lo.

Só nos resta viver. Ainda bem: as quintas-feiras só se aproximam da nossa morte.

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