O convite do papel

O papel contra-ataca. E ainda bem.

Há reviravoltas no mundo das revistas. Há vinte anos comprava o New York Review of Books (NYRB) em papel, por cerca de 1200 escudos (seis euros). Chegava a Portugal com duas semanas de atraso. Comprava-a na deliciosa livraria Tema nos Restauradores, que tinha (e tem) quase todas as boas revistas e os bons jornais que há.

Deixando de morar em Lisboa, assinei o jornal por cem dólares por ano (73 euros). Como o NYRB publica 20 números por ano, cada exemplar saía a pouco menos de quatro euros. Chegava era com um atraso de três semanas, insuportável.

Quando veio o Kindle, assinei a versão Kindle do NYRB (sem bonecos nem grafismo) por 48 dólares (35 euros) por ano. Recebia cada edição no dia em que era publicada e cada uma custava-me apenas 1,8 euros.

Depois apareceu a versão iPad, exactamente igual ao jornal publicado. O problema é que custa seis euros por edição. É caro: sai a 120 euros por ano.

E não é que esta semana recebo uma carta pelo correio da NYRB oferecendo-me a edição de papel por apenas 79 dólares (58 euros)? É. Fica-me cada edição impressa por menos de três euros – metade do que eu pagava há 20 anos. Quem  comprar o NYRB nos EUA paga sete dólares (cinco euros) por cada jornal.

A proposta é tentadora para quem gosta mais de ler em papel, para quem gosta de escrever comentários no papel e para quem gosta de guardar recortes ou os jornais inteiros. Que fazer? O atraso vale a pena? Não sei. Sei é que o papel contra-ataca. E ainda bem.

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