O chumbo da teimosia

Os problemas que rodearam os exames mostram que a estratégia do braço-de-ferro estava errada.

Se fosse um jogo de hóquei em patins, ganhava o Governo, por 5-2. Não era bem isto que nos queria dizer o ministro Nuno Crato quando referiu o facto de cerca de 20 mil dos 75 mil alunos que hoje se apresentaram para fazer o exame de Português do 12º ano terem ficado de fora. Mas foi a forma de ele nos dizer que esse tinha sido o mal menor.

Na mesma lógica político-desportiva, Mário Nogueira poderia reivindicar para si o triunfo por 9-1, apoiando-se na adesão maciça de aproximadamente 90% dos professores à greve.

Mas em matérias tão delicadas como estas, corremos o sério risco de patinarmos caso abusemos das metáforas desportivas. Nem só de números pode ser feita a leitura da polémica greve convocada para esta segunda-feira pelos sindicatos dos professores. Mas essa leitura também não pode ser feita à revelia do que dizem as estatísticas.

É que os “apenas”20 mil alunos que não fizeram exame representam uma derrota pesada para o Governo e para o ministro da Educação. Garantir que a maioria não ficava de fora podia quando muito, ser um objectivo contabilístico. Mas não mais do que isso.

Por uma razão muito simples: tivessem o Governo e Nuno Crato seguido a indicação da comissão arbitral, que rejeitou que os serviços mínimos pudessem ser aplicados a esta greve, os exames teriam decorrido sem problemas a 20 de Junho.

Ou seja, teriam decorrido sem irregularidades, sem enunciados a circular na Internet e sem pelo menos um terço dos alunos a poder reivindicar que a regra da equidade não foi respeitada.

Os problemas que rodearam os exames mostram que a estratégia do braço-de-ferro estava errada e prejudicou os alunos, quando podia ter havido outra saída.

Diz o Governo que não tinha garantias de todos os sindicatos que uma mudança na data do exame não arrastasse uma transferência na data da greve. Mas se Nuno Crato tivesse seguido esse caminho e os sindicatos tivessem alterado as datas, isso significaria um descrédito total das estruturas sindicais. E o ministro teria saído por cima deste conflito.

Só que preferiu a teimosia à moderação. E a teimosia de Nuno Crato foi chumbada.

 

Texto corrigido às 19h52. Alteradas frases que referiam “exames de ontem”.

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