O ano sessenta

Hoje perfaço 60 anos. Na verdade entro no sexagésimo-primeiro ano da minha estadia nesta terra.

Hoje é o primeiro dia do pouco que resta da minha vida. O sacana do Salmo 90:10 não se presta a confusões: "Os dias da nossa vida são setenta anos e, caso houver força, chega aos oitenta. Mas é força que só traz trabalho e tristeza: passa num instante e voamos...".

Hoje perfaço 60 anos. Na verdade entro no sexagésimo-primeiro ano da minha estadia nesta terra. Faltam 9. Ou, no caso de serem 19, serão anos que já não prestam. Sim, é um dia de indiluída alegria. Não, não quero me que me dêem os parabéns. Eu sei que são parabéns por ter sobrevivido até aqui.

Há quantos anos é que deixaram de me dizer "que contes muitos"? Para aí há 15 anos, quando acharam que eu já contava a minha conta.

Mesmo assim não sou capaz de ficar triste só por ir ter 60 anos. Ainda tenho a inteligência de achar pouco, comparado com o chimbalau que aí vem. Confesso que já aderi ao movimento de massas que celebra silenciosamente o triunfo de "pelo menos ainda estar vivo". Aceitaram-me de braços abertos. Fechá-los já foi mais difícil.

Estou velho mas, por outro lado, sem mentir, confirmo o que gerações de sessentões disseram antes de eu me juntar a eles: não me sinto velho. Cheira-me que essa revelação é uma delícia que me está guardada para mais tarde, quando já não me puder defender.

Quando fiz 15 anos (a 4 vidas de mim) também achei que tinha chegado a um momento importante da minha vida. É mentira. Não é o tempo: são as pessoas e é o amor. Mas também a morte.

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