Número de casos de Legionella sobe para 278

Novo balanço feito pela Direcção-Geral da Saúde. Passos Coelho fala em declínio do surto.

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O hospital de Vila Franca de Xira concentra a maioria dos casos Pedro Nunes/AFP

As autoridades de saúde actualizaram nesta terça-feira o balanço relativo ao número de doentes infectados por Legionella. Ao todo, a bactéria já afectou 278 pessoas que foram atendidas em hospitais da região de Lisboa, mas também em outras zonas do país e até no estrangeiro. Os últimos valores avançados ainda na segunda-feira pela Direcção-Geral da Saúde referiam 233 casos o que demonstra, tal como tinha assegurado Francisco George, que o surto estará já a abrandar.

Num comunicado já ao final da tarde, a Direcção-Geral da Saúde avançou que "com ligação ao surto de Vila Franca de Xira foram reportados 45 novos casos desde ontem. Em termos acumulado, verificaram-se, até agora, 278 doentes confirmados dos quais faleceram cinco".

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Sobre o foco que originou este surto de Legionella, a nota assinada por Francisco George dizia que "os inquéritos epidemiológicos continuam a decorrer, mas toda a evidência sugere que o surto está circunscrito às freguesias de Póvoa de Santa Iria, Forte da Casa e Vialonga, em Vila Franca de Xira, zonas às quais se ligam todos os casos identificados. Não há indícios de extensão do risco de doença para lá da zona já delimitada". O director-geral da Saúde reforçou que "as investigações que procuram determinar a fonte de contaminação continuam a decorrer em estreita colaboração entre os Ministérios da Saúde e do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia com a participação de outras agências como o Instituto Português do Mar e da Atmosfera".

Antes, a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, através de um comunicado, informava que, “até ao momento foram reportados 264 casos de infecção de Legionella na rede hospitalar da Região de Lisboa e Vale do Tejo. Deste total, 48 cidadãos foram acompanhados no Hospital de Vila Franca de Xira, 76 no Centro Hospitalar Lisboa Central, 73 no Centro Hospitalar Lisboa Norte e 67 distribuídos por diversos Hospitais da Região de Lisboa”.

Dos 264 casos referidos pela ARS, “40 casos encontram-se a receber tratamento em Unidades de Cuidados Intensivos”. Em relação aos cinco casos mortais, o comunicado da ARS de Lisboa e Vale do Tejo diz que quatro ocorreram no Hospital de Vila Franca de Xira e um no Centro Hospitalar Lisboa Norte. Há ainda pessoas internadas em hospitais de outras zonas do país, como Castelo Branco, Vila Real e Porto, mas que são contabilizados de forma independente pela ARS de cada uma das zonas. Há também um caso num doente em Luanda (Angola) e de um outro em Lima (Peru), ambos em pessoas que tinham estado em Vila Franca. Os casos foram confirmados à Lusa por Francisco George.

“O Plano de Contingência Hospitalar, accionado prontamente na Região de Lisboa e Vale do Tejo, tem permitido uma resposta adequada e imediata a todos os casos que vão surgindo. Procurou-se com a resposta dada permitir que todos os doentes tenham um nível de cuidados adequado à sua situação clínica, garantindo ainda que cada uma das unidades hospitalares mantêm margem na sua capacidade de resposta, sem prejudicar o normal funcionamento das mesmas”, lê-se na nota, que sublinha a “elevada capacidade” dos profissionais de saúde, que permitiu que “o acompanhamento dado a esta emergência de saúde pública esteja a ser eficaz e atempado.

A actualização da ARS surge depois de o ministro do Ambiente ter anunciado, também nesta terça-feira, uma acção inspectiva extraordinária à empresa Adubos de Portugal, em Vila Franca de Xira, para averiguar um “eventual crime ambiental” por se suspeitar que possa ter sido nas torres de refrigeração desta empresa que teve origem o surto de Legionella.

Jorge Moreira da Silva explicou que a inspecção vai decorrer “nas próximas horas” e servirá para averiguar um “eventual crime ambiental por libertação de microrganismos para o meio ambiente”. Porém, o ministro salvaguardou que ainda não é altura de “descartar definitivamente outras hipóteses” e que é necessário aguardar pelas “amostras e análises que estão ainda em cultura”, informando que “os resultados definitivos ainda demorarão algumas horas”. “Mas tendo em atenção as análises que foram feitas, tanto no sábado, como novamente no domingo, consideramos que um grau de probabilidade mais elevado está associado às torres de refrigeração e, no âmbito das torres de refrigeração, concretamente em relação a esta empresa”, acrescentou Jorge Moreira da Silva, citado pela Lusa.

Na manhã desta segunda-feira a subdirectora-geral de Saúde, Graça Freitas, já tinha confirmado ao PÚBLICO que havia mais locais, além da fábrica da Solvay, onde foram detectados vestígios de Legionella. As atenções centram-se agora na Adubos de Portugal, cujas torres de refrigeração foram encerradas no fim-de-semana, tal como as das outras grandes fábricas de Vila Franca de Xira.

Antes das declarações de Jorge Moreira da Silva, o delegado de saúde regional de Lisboa e Vale do Tejo tinha adiantado que as autoridades de saúde já tinham uma “ideia concreta” do foco que poderá ter dado origem ao surto de Legionella que desde sexta-feira tem entupido vários hospitais, sobretudo o de Vila Franca de Xira. Contudo, António Tavares remetia mais explicações para o comunicado da Direcção-Geral da Saúde, que é esperado para o final da tarde.

Foi precisamente na Adubos de Portugal que o director-geral da Saúde esteve na segunda-feira a dar uma palestra sobre a doença do legionário a todos os trabalhadores desta fábrica, numa sessão em que puderam expor as suas dúvidas. A palestra foi feita por iniciativa de Francisco George, que quis deslocar-se ao local para acalmar os trabalhadores, depois de se ter sabido que desde sábado tinham surgido pelo menos seis casos de Legionella nesta fábrica. Aliás, logo no sábado, a empresa desligou as torres de refrigeração – o local onde a bactéria encontra normalmente condições para criar uma colónia. As torres foram também desinfectadas e seladas, o que poderá influenciar os resultados das análises.

O PÚBLICO contactou a Adubos de Portugal, mas ao telefone disseram que a administração estava fora, por ser hora de almoço, não sendo possível adiantar quando haverá uma reacção oficial.

A Organização Mundial de Saúde já qualificou este surto como uma "grande emergência de saúde pública".

Passos fala em declínio do surto
No Porto, o  primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, disse esta terça-feira que o surto de Legionella está a entrar em declínio e que "esta situação não ocorreu por negligência do Estado", deixando a garantia de que as responsabilidades serão apuradas.

Questionado pelos jornalistas sobre o surto de Legionella, o primeiro-ministro declarou que nesta altura está "a entrar em declínio" e sublinhou a necessidade de continuar a prestar "todo o auxílio a todas as pessoas que precisam dessa assistência".

Em Aldoar, no Porto, no final da inauguração e da visita do Complexo Social do Centro Social de S. Martinho, Passos elogiou o ministro da Saúde, Paulo Macedo, pela forma como tem acompanhado esta situação e deixou a garantia de que "a responsabilidade sobre a origem do problema será apurada e será transmitida com transparência". De resto, o líder do Executivo espera mesmo que "este caso possa funcionar de forma profiláctica", já que houve muitas pessoas que foram atingidas por uma situação de saúde pública.

Questionado sobre se se sentia responsável politicamente devido a uma alteração legal feita pelo seu Governo em 2013, que obriga à fiscalização e análises neste tipo de estruturas, Passos explicou que a alteração legal feita” foi justamente para reforçar a capacidade de inspecção e de prevenção destes casos não é para provocar estas situações, antes pelo contrário”, vincando que "esta situação não ocorreu por negligência do Estado". “A responsabilidade sobre a origem do problema será apurada e será transmitida com transparência”, reforçou.

O primeiro-ministro vincou ainda que o apuramento das responsabilidades “permitirá saber o que falhou em estruturas que deviam ter um cuidado muito especial na sua protecção, na sua higiene e na sua prevenção e que neste caso falhou e isso tem de ser comunicado até para os devidos efeitos de responsabilização”.

 

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