Nome de director de informação nomeado para RTP recebido com surpresa

José Manuel Portugal, de 50 anos, ocupa há uma década cargos directivos na RTP, mas quando é preciso também faz jornalismo.

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José Manuel Portugal: “A minha morada é a matrícula do meu automóvel. Ando sempre de um lado para o outro” Sérgio Azenha

Os portugueses já nem se devem lembrar dele: o homem nomeado como novo director de informação da RTP é um jornalista quase desaparecido dos ecrãs de televisão. Aos 50 anos, José Manuel Portugal tem permanecido na sombra desde há uma década, ocupando sucessivos cargos directivos na RTP, onde sobreviveu incólume a três mudanças de direcção. Mesmo assim, a sua escolha para o cargo deixou muita gente de boca escancarada de espanto.

Começou  a fazer jornalismo na Rádio Universidade de Coimbra, quando frequentava o curso de Direito, mas cedo percebeu que a sua verdadeira vocação era “a comunicação”, conta. Entrou para a RDP em 1988, que acumulou durante anos com o trabalho na SIC, a convite de Emídio Rangel. Aluno do primeiro curso de Jornalismo da Faculdade de Letras da Universidade local, que arrancou em 1993, licenciou-se cinco anos depois, fez uma pós-graduação e foi convidado para dar aulas de jornalismo televisivo, o que ainda hoje faz, como professor assistente.

Em 2003 foi convidado para director do centro regional de Coimbra da RTP. Homem “de confiança” de Luís Marinho, director-geral de conteúdos, o director indigitado — cujo nome ainda vai passar pelo crivo da Entidade Reguladora para a Comunicação Social — foi ocupando vários cargos na empresa, como coordenador e subdirector para a informação não diária, responsável das delegações e director da RTP-Porto, onde permaneceu cerca de um ano e meio. Recentemente foi nomeado director-adjunto para os serviços internacionais.

Na empresa e fora dela a notícia foi recebida com surpresa e, também, com algum temor. “As pessoas estão apreensivas”, sintetiza um jornalista que pediu para não ser identificado. Aliás, das dez pessoas com quem o PÚBLICO falou neste sábado sobre a nomeação de José Manuel Portugal apenas uma aceitou ser citada. Várias recusaram-se a comentar o que quer que fosse.

O crítico de televisão Eduardo Cintra Torres mostra-se perplexo. “As pessoas não quem acreditar. Como é possível? Ele não só não tem perfil para o cargo, como não tem perfil. Não tem currículo, credibilidade, trabalho jornalístico, nada. É o homem sem qualidades”, sintetiza. Há quem destaque vários aspectos positivos. É, enumeram, “popular”, “bem-humorado” e “mexido.“

O próprio confirma-o: “A minha morada é a matrícula do meu automóvel. Ando sempre de um lado para o outro”, descreve Portugal, que vive em Coimbra, mas se habituou a percorrer o país e que, apesar de ter abandonado o jornalismo activo para ocupar cargos de direcção, sempre que pode volta a pegar no microfone. Isso aconteceu poucas vezes, quase sempre quando foi apanhado perto de "catástrofes". “Estava no Algarve quando caiu uma arriba, fiz um directo quando houve um acidente de comboios perto de Coimbra. E aconteceu o mesmo nas enxurradas da Madeira, quando um jornalista se atrasou no meio da serra. Peguei no microfone e fiz”, recorda. No ano passado, voltou a aparecer, fugazmente, na apresentação de um programa com Joana e Carlos Amaral Dias. Chamava-se Portugal no Divã

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