Nem otários somos

Recebo, do verdadeiro endereço de email de uma colega do PÚBLICO, o seguinte texto:

"Sinto muito incomodá-lo, estou em Limassol, Chipre no momento e eu perdi o meu saco contendo todos os meus itens vitais, telefone e dinheiro na estação de ônibus. Eu sou o tipo de preso agora eu preciso de um pouco de ajuda de vocês.

Obrigado,

*Nome da colaboradora*"

Mandei-o à Bárbara Reis, que me respondeu que tem recebido esses emails não só desta jornalista como de muitos outros emails.

O que espanta é a inépcia analfabeta do texto. Parece ter sido traduzido por computador para português do Brasil. A pontuação e a sintaxe são tão atrozes que não consigo adivinhar a língua original.

"Eu perdi o meu saco" não é "perdi a paciência" mas também não é "roubaram-me a carteira".

Também poderia ser no aeroporto, em vez da famosa "estação de ônibus" de Limassol, onde é tão fácil perdermos os sacos.

A conclusão deprimente é que não há nenhum ou nenhuma vigarista que tenha escrito e traduzido mal aquela mensagem. É apenas um bocado de programação mal escrita, automaticamente traduzida para as línguas mais faladas.

Nem sequer essa consolação existe. Nem otários somos. Não há esforço da parte de quem nos quer enganar. Somos apenas uma morada num conjunto gigantesco de possibilidades. É-nos atribuída uma oca inexistência que corresponde à maldade anónima e maquinal que tentou roubar-nos.

Se alguma vez estiver aflito em Limassol, tente escrever como um ser humano.

 

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