Campanhas da GNR e 427 flores para as vítimas nas estradas

No Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada, a Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados apela ao investimento em vias mais seguras para "garantir que as estradas não matem". As comemorações decorrem este domingo em Viseu

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Nuno Mendes

O presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M), Manuel João Ramos, acredita que seria “mais barato melhorar as estradas do que suportar os custos sócio-económicos” dos acidentes e sustenta que o impacto da sinistralidade sobre a saúde pública é “impressionante”. Em Viseu, 427 flores vão servir para representar simbolicamente as vítimas mortais registadas este ano (até 31 de Outubro).

 “Estamos a falar de impactos financeiros, sem falar das tragédias sociais e pessoais, na ordem dos 2 a 3 por cento do custo global (custos directos e indirectos) com a saúde” tendo em conta o Produto Interno Bruto (PIB). Um número que é sustentado com base no último estudo realizado para avaliar este impacto e que foi desenvolvido em 2010 pelo Centro de Análise Económica de Regulação Social (CARS) da Universidade Autónoma de Lisboa. Segundo o estudo, neste ano, o custo directo com os acidentes rodoviários foi de 1 890 milhões de euros, ou seja, 1,17 por cento do PIB (163 033 milhões de euros).

“Se acumularmos o que foi gasto com cada vítima mortal, tínhamos conseguido, por exemplo, fazer uma A25 logo em 1984 ou corrigir as curvas do Marão no IP4 e evitar a morte de 30 pessoas”, exemplificou Manuel João Ramos. “As contas não são difíceis de fazer. Em média teríamos dez milhões por ano para resolver problemas onde às vezes só são precisos algumas centenas de euros, como por exemplo colocar sinalização adequada”.

A chamada de atenção é feita no ano em que o Dia em Memória das Vítimas na Estrada que se assinala este domingo tem como tema a segurança das infra-estruturas, mas em que o alerta que chega das várias organizações mundiais incide sobre os custos que a sinistralidade rodoviária acarreta em todo o mundo. Segundo as Nações Unidas, prevê-se que em 2020 os acidentes rodoviários sejam a quinta causa de morte a nível mundial. “Isto é quase uma epidemia e, por isso, tem de ser tratado como um problema de saúde pública”, alerta o presidente da ACA-M.

Segundo Manuel João Ramos, Portugal não está no índice dos países com maior taxa de mortalidade rodoviária a nível mundial, mas lamenta que não haja uma aposta mais forte na segurança e que passa por “garantir que as estradas não matem” por causa da sua qualidade.

Por outro lado, aponta, é igualmente de lamentar a falta de acção na regulamentação das auditorias de segurança rodoviária. Para Manuel João Ramos este incumprimento do Estado  é um “crime” . “Em Portugal não temos um mecanismo que garanta que as estradas não matam. Desde 1998 que as auditorias estão previstas e inscritas no Plano Nacional de Segurança Rodoviária, mas este mecanismo não está regulamentado”, sublinha. E refere como exemplo: “no acidente do IC8 no início do ano com um autocarro morreram 11 pessoas. Até hoje não se sabem as causas, mas continua-se a circular naquela via, precisamente porque não foi feita uma auditoria. E isto é um incumprimento criminoso”.

Para o presidente da ACA-M não se pode apenas falar num “problema cultural de sinistralidade” por parte dos condutores, enquanto a “responsabilidade do Estado não for assumida”. Acusações que a Estradas de Portugal (EP) recusa, lembrando que faz regularmente auditorias e inspecções rodoviárias. “Fazemos fiscalização na nossa rede de estradas, desde a qualidade do pavimento à sinalização, e também participámos com outras entidades na elaboração de pareceres”, informa o gabinete de imprensa da EP.

O Dia em Memória das Vítimas na Estrada assinala-se há 20 anos e há nove que tem o estatuto de Dia Mundial. Em Portugal, as celebrações iniciaram-se em 2002. Este ano, a construção, manutenção e segurança das estradas é o tema principal. “Erros e distracções ao volante ocorrem diariamente e conduzem a uma inimaginável quantidade de lesões, mortes e sofrimento. Ainda que os desastres de viação não possam ser totalmente evitados, não terão consequências tão trágicas se as ruas e estradas forem concebidas e mantidas para serem seguras”, alerta em comunicado a ACA-M. Esta associação lembra ainda que o maior número de acidentes se verifica nas vias urbanas onde há uma “inadequada” gestão rodoviária. 

Cerimónia em Viseu
Viseu foi a cidade escolhida para as comemorações nacionais do Dia em Memória das Vítimas na Estrada. Além de passeios em percurso urbano realizados por ciclistas e motociclistas e de uma missa presidida pelo bispo de Viseu, terá lugar, durante a manhã, um memorial de rua e 427 flores, representando as vítimas mortais registadas este ano (até 31 de Outubro) serão colocadas num dos jardins do centro da cidade.

A estas comemorações juntam-se outros organismos, entre eles a GNR que vai colocar no terreno várias campanhas de prevenção pelo país. Em Póvoa de Lanhoso – Braga – será realizado um simulacro de um acidente de viação na EN103. Segundo dados, ainda provisórios, da Associação Nacional de Segurança Rodoviária, além de Lisboa e Porto, Braga, Aveiro e Setúbal são os distritos com mais vítimas mortais resultante de acidentes de viação ocorridos durante este ano.

Já os dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (referentes a 2010) indicam que em Portugal a taxa de mortalidade na estrada tem vindo a diminuir desde 2001, mas continua a ser, em 15 países da Europa Ocidental, o segundo com maior índice, sendo ultrapassado apenas pela Grécia. O relatório conclui que em 2010 morreram 937 pessoas em acidentes rodoviários, o que equivale a 11,8 pessoas por 100 mil habitantes. 

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