Não entravam tantos no ensino superior desde 2011, mas o concurso foi mais difícil

Os resultados da 1.ª fase do concurso nacional confirmam que há uma retoma da procura do ensino superior. Nos cursos mais disputados, só metade dos alunos conseguiram lugar.

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No concurso nacional de acesso deste ano, o subsistema universitário continua a ser o mais concorrido, absorvendo quase dois terços dos estudantes Daniel Rocha

Depois de o total de candidatos ter sido o mais alto desde 2010, os dados relativos às colocações, divulgados na madrugada deste domingo, fazem do novo ano lectivo aquele com mais novos estudantes a chegar às universidades e institutos politécnicos dos últimos quatro anos. Fruto das melhores notas com que os alunos saíram do secundário, este foi um concurso mais difícil: as médias dos cursos mais procurados subiram e apenas metade dos candidatos conseguiu uma vaga na primeira opção.

As listas de colocações no ensino superior podem ser consultadas pelos alunos na página da Internet do concurso nacional de acesso – e também no site do PÚBLICO – bem como em aplicativos para telemóveis a partir desta madrugada. Na segunda-feira, as universidades e politécnicos vão receber os 42.068 novos alunos, mais 4280 do que há um ano (aumento de 11,4%). Este resultado permite que sejam recuperados os níveis de acesso de 2011, depois de três anos em que a procura do ensino superior esteve em baixa.

No concurso nacional de acesso deste ano, o subsistema universitário continua a ser o mais concorrido, absorvendo quase dois terços dos estudantes. No entanto, em termos proporcionais, são os institutos politécnicos que registam um crescimento superior, vendo entrar mais 16,7% de estudantes face ao ano anterior. Este desempenho é sublinhado pelo presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Joaquim Mourato: "São boas notícias porque se inverteu a tendência dos últimos anos, e temos um crescimento no número global de candidatos colocados pelo segundo ano consecutivo."

Já o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, António Cunha, mostra-se satisfeito com o crescimento das entradas nas universidades (mais 8,5%), permitindo “reestabelecer os valores de que necessitamos para nos aproximarmos dos indicadores europeus para os quais queremos convergir”.

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O aumento da procura do ensino superior “deve ser motivo de regozijo para todos”, valoriza o presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, João Guerreiro. As colocações agora conhecidas confirmam o cenário de recuperação que já tinha ficado evidente durante a fase de candidaturas, que terminou há um mês. Foram aceites no concurso 48.271 candidatos – 285 processos foram excluídos por não reunirem as condições exigidas – o que corresponde a um aumento de quase 14% face ao ano anterior.

“Há uma recuperação da confiança das famílias no ensino superior”, valoriza Guerreiro, para quem as “boas notícias” agora conhecidas poderão sublinhar esta mensagem positiva para os estudantes que podem candidatar-se nos próximos anos. O principal motivo do aumento do número de candidatos ao ensino superior é, porém, a melhoria dos resultados dos alunos no ensino superior, como sublinharam especialistas ouvidos pelo PÚBLICO durante a fase de candidaturas.

Os resultados da 1.ª fase dos exames nacionais demonstraram algumas melhorias, sobretudo a Matemática, onde a média de 12 valores corresponde a um dos melhores resultados em 20 anos nas provas desta disciplina. A Português, a média também se manteve positiva.

As melhores notas colocaram mais estudantes em condições de se candidatarem ao ensino superior e também fizeram subir as médias dos melhores alunos, o que resultou num concurso mais competitivo. Nos 10 cursos com notas de acesso mais altas, só um ficou abaixo dos 18 valores. Há um ano havia apenas três cursos em que era necessário mais de 18 para entrar. Na generalidade das formações mais concorridas, a nota de acesso subiu este ano, a começar por aquele que continua a ser o curso com acesso mais difícil, Medicina, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, onde a nota do último colocado aumentou de 18,27 (numa escala que vai até 20) para 18,67.

Um concurso difícil e competitivo também criou maiores obstáculos a que os alunos conseguissem entrar nos seus cursos preferidos. Nesta primeira fase foram colocados 87,1% dos candidatos, o que representa um decréscimo deste indicador face aos dois últimos anos. No mesmo período do ano passado tinham encontrado lugar 89,1% dos alunos e, no ano anterior, eram já 92,6%.

Além disso, o número dos que conseguiram entrar numa das três primeiras opções escolhidas no boletim de candidatura (84,4%) recuou 3,6 pontos percentuais. Quando se olha para o número de alunos que conseguiu entrar na sua primeira opção, os números são ainda mais evidentes: apenas 50,5% tiveram lugar no curso favorito. Há um ano, 54% tinham-no conseguido e, em 2013, dois terços dos alunos entraram na 1.ª opção.

Esta realidade “pode criar algumas frustrações” nos alunos, admite o presidente da Federação Académica do Porto, Daniel Freitas, mostrando alguma preocupação pelo facto de haver vários estudos recentes que mostram que o abandono escolar é mais elevado entre os universitários que acabaram colocados em opções secundárias. Daí que o dirigente estudantil defenda que as regras do concurso possam ser revistas nos próximos anos, alargando o número de opções passíveis de serem escolhidas das actuais seis para dez. “Com a informatização do processo, deixou de haver qualquer custo processual de tomar uma decisão destas”, justifica.

O crescimento do número de colocados no ensino superior acontece num ano em que o número de vagas tinha diminuído – havia 50.555 lugares a concurso, menos 265 do que no ano passado. Destas ficaram por ocupar 8714, o que corresponde ao mais baixo número de vagas sobrantes desde 2011. Estes lugares ainda podem ser ocupados na 2ª fase do concurso de acesso, que começa esta segunda-feira e se prolonga até 18 de Setembro. Os resultados fase são divulgados a 24 de Setembro.

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Como ler as tabelas

Eis algumas notas para quem vai consultar as listas com os resultados da 1.ª fase do concurso nacional de acesso, de acordo com a informação que foi fornecida pelo Ministério da Educação e Ciência. Para cada curso estão indicados o respectivo grau académico, em que L1 significa licenciatura, MI quer dizer mestrado integrado, PL significa preparatório de uma licenciatura (os dois anos iniciais de um ciclo de estudos de licenciatura — o estudante que os conclui prossegue os seus estudos na instituição de ensino superior com que a instituição onde frequentou os dois primeiros anos firmou um protocolo), e PM significa preparatório de um mestrado integrado (os dois anos iniciais de um ciclo de estudos de mestrado integrado).

Apresentam-se ainda os dados relativos às vagas iniciais, número de estudantes colocados, nota de candidatura do último colocado pelo contingente geral (vulgarmente apresentado como a média do curso) e as vagas sobrantes para a 2.ª fase do concurso. A ausência de nota de candidatura do último colocado pelo contingente geral resulta da ausência de colocados neste contingente.

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