Na Feira, Crato ouviu dois coros: um afinado de alunos, outro de protesto de professores sem trabalho

Ministro da Educação inaugurou EB2,3 Fernando Pessoa, em Santa Maria da Feira, e garantiu que as construções escolares não estão paradas.

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Nuno Crato voltou a ouvir protestos Miguel Manso

Nesta sexta-feira, o ministro da Educação referiu-se a um “dia de festa” pela inauguração da nova EB2,3 Fernando Pessoa, em Santa Maria da Feira, escola com 1160 alunos, 41 turmas, 90 professores e 31 auxiliares. À sua espera, dentro da escola, estava um coro afinado de alunos do 9.º ano com várias canções preparadas e acompanhadas ao piano. Lá fora, rodeado por um cordão policial, um coro de protestos em alta voz, megafone em punho, mobilizado pelo movimento nacional de professores Boicote e Cerco, com “Crato rua, a escola não é tua” na ponta das línguas e um cartaz com uma fórmula matemática: “Caos nos concursos = alunos sem aulas + 40.000 professores sem trabalho.”

André Pestana, do Boicote e Cerco, professor de Biologia no desemprego, era um dos cerca de meia centena de rostos de contestação. “Há alunos sem aulas e nós queremos trabalhar. Este ministro não tem condições para continuar, é incompetente, reconheceu um erro numa operação de cálculo matemático”, referia.

André Crespo, professor de Educação Física sem trabalho neste ano lectivo, veio propositadamente de Leiria para mostrar a sua indignação. “Não devia haver a lista da Bolsa de Contratação de Escola, mas uma lista única de graduação, que é mais justa e que tem em conta as habilitações académicas”, dizia.

Nuno Crato foi apupado e assobiado, quando saiu do carro, com os manifestantes colados à rede exterior da escola a pedir a sua demissão. O governante entrou na nova escola, escutou o coro, deu os parabéns aos alunos, visitou as novas instalações, que representaram um investimento total de cerca de 6,3 milhões de euros, e no final referiu que era um “dia de festa”. “É uma escola construída sem excessos, com requisitos de qualidade, sem requisitos de luxo”.

“É uma escola bonita, construída segundo padrões de alta qualidade, arquitectonicamente muito agradável, virada a sul, tem sol, tem luz, tem espaços amplos e modernos”, acrescentou. E aproveitou o momento para avisar que há escolas em construção. “É preciso que o país saiba que as obras escolares não estão paradas, que um pouco por todo o país, não à velocidade que gostaríamos, surgem escolas requalificadas, escolas novas, muitos centros escolares”.

E os protestos? “Estamos num dia de festa, numa escola nova, vi professores contentes, vejo professores empenhados nas aulas”, respondeu. No dia em que a plataforma das listas da Bolsa de Contratação de Escola (BCE) voltou a estar disponível, Nuno Crato garantiu que tudo está a ser feito para que os problemas se resolvam, lembrando, por outro lado, que já assumiu o erro.

“As aulas estão a funcionar em todo o país, agora não deixamos de reconhecer, e tive oportunidade de o fazer publicamente no Parlamento, que houve um erro na Bolsa de Contratação de Escola que atrasou o processo.” O ministro já tinha prometido que nenhum professor da BCE que já tenha sido colocado seria prejudicado. “São professores altamente graduados e são professores que ou nessa escola ou numa outra certamente encontrarão lugar”, referiu nesta sexta-feira.

O ministro descerrou a placa da nova EB2,3 de Santa Maria da Feira, entrou em várias salas, viu o pavilhão desportivo que ainda cheira a novo, e cumprimentou alunos e docentes. No final da visita, salientou a importância de quem ensina como uma “peça central” e pediu mais acção aos pais. “Vão às escolas exigir exigência dos professores. Os pais podem ser uma peça decisiva para apoiar os professores num trabalho de exigência.”

“Esta escola é o nosso futuro”, referiu o presidente da Câmara da Feira, Emídio Sousa, que aproveitou a presença do ministro para demonstrar inteira disponibilidade em criar projectos educativos inovadores que possam adequar a oferta das escolas às necessidades do mercado laboral. “O município exporta o triplo do que importa”, realçou o autarca que estava satisfeito com a abertura de uma escola moderna e que representa o “corolário” de um forte empenho de todos os intervenientes neste processo. Crato admitiu, pouco depois, que as ofertas educativas devem “estar alinhadas” com as necessidades do mercado de trabalho, nunca esquecendo “a educação integral dos jovens”.

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