Movimento cívico diz que prisão de Sócrates é um "plano da direita"

Grupo, que criou hino em louvor ao ex-governante, fala em "forças ocultas" e cita o capitão de Abril Salgueiro Maia considerando que "às vezes é preciso desobedecer".

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Fernando Veludo/NFactos

O Movimento Cívico José Sócrates, Sempre considera que o ex-primeiro-ministro é “um preso político” e que o ex-governante foi preso para que a investigação fosse possível. Na primeira acção pública, o movimento aproveitou para se apresentar oficialmente esta quinta-feira numa conferência de imprensa, no Porto. A apresentação esteve a cargo do grupo nuclear da sua fundação, um agente da PSP aposentado, um empresário, uma funcionária de uma autarquia e uma professora reformada. Apenas esta duas últimas disseram ser militantes de base do PS, sublinhando que os restantes não fazem parte de qualquer partido.

O antigo polícia de Mangualde, João Gomes, não teve qualquer dúvida em afirmar que a prisão de Sócrates foi um “plano da direita” e chamou a atenção para a existência de “forças ocultas” que, na sua perspectiva, estarão a condicionar o processo. Questionado sobre as suspeitas que levanta inevitavelmente sobre o juiz de instrução criminal Carlos Alexandre e o procurador Rosário Teixeira, o ex-agente não quis, porém, concretizar a sua opinião. “Como cidadão tenho o direito de fazer um julgamento. Eu vejo telejornais”, disse.

Sócrates está em prisão preventiva há quase quatro meses, tendo o processo já sido escrutinado entretanto, face a recursos e a habeas corpus, pelo Tribunal Central de Instrução Criminal, Tribunal da Relação de Lisboa e pelo Supremo Tribunal de Justiça. Até agora, diferentes magistrados de instâncias diversas decidiram manter o ex-governante em prisão preventiva.

“Não temos conhecimento do que está no processo, mas temos uma opinião. Achamos que ele um preso político e é a partir daqui que trabalhamos”, explicou a professora reformada Luísa Lopes que deu ainda conta que o movimento, que já conta com um hino em louvor a Sócrates, foi criado há cerca de 10 dias e que já tem 400 elementos. Os fundadores, que se conheceram nas vígilias junto à cadeia de Évora, sublinharam que os membros do grupo têm diferentes opiniões. Adiantaram ainda que o movimento irá organizar a 28 de Março uma nova vigília à porta daquela prisão, uma iniciativa com música e poesia a que chamaram “Primavera em Évora”.

Entre os quatro membros que apresentaram o movimento, apenas um conhece de perto Sócrates. “Ele andou com os meus filhos ao colo. Conheço-o bem”, disse José António Pinho, conhecido empresário da Covilhã, onde também viveu e trabalhou o ex-governante. Segurando um exemplar do livro de Sócrates A Confiança no Mundo. Sobre a Tortura em Democracia, autografado pelo autor, José António Pinho, disse que o ex-governante está “preso por ser um homem perigoso e a ser vítima de “tortura, mas sofisticada”.

O empresário recordou, comparando, a tortura de que foi alvo pela PIDE durante o Estado Novo, condenou “métodos fascistas” contra Sócrates e, questionado sobre a legitimada da justiça, citou o capitão de Abril, Salgueiro Maia: “Às vezes é preciso desobedecer”.

Numa nota de imprensa distribuída pelos jornalistas, o movimento criticou ainda o facto de Sócrates estar preso apenas com base em “indícios” e sem que até agora o Ministério Público tenha deduzido uma acusação, o que é habitual nesta fase, que é a inquérito, na qual em causa apenas indícios como nos restantes casos. 

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