Investigada morte de estudante que terá tomado produto para emagrecer

Morte de jovem, nos Açores, foi divulgada depois de a Interpol ter lançado um alerta mundial chamando a atenção para os riscos de uma substância ilícita usada para a perda de peso.

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Foto: David Clifford (arquivo)

Um jovem que estudava na Universidade dos Açores morreu no sábado no hospital de Ponta Delgada depois de alegadamente ter ingerido uma substância para emagrecer e para acelerar o desenvolvimento muscular. O caso, que está a ser investigado, foi conhecido depois de a Interpol ter emitido um alerta mundial sobre um produto para emagrecer (2.4 dinitrofenol) que é popular no mundo do culturismo e que provocou recentemente a morte a uma jovem no Reino Unido e graves problemas de saúde a um cidadão francês.

Aluno do curso de Gestão de Empresas na Universidade dos Açores, o jovem era natural do continente e terá dito aos médicos da urgência do hospital de Ponta Delgada que tinha ingerido uma cápsula de um produto amarelo que terá identificado como dinitrofenol, segundo adiantou a RTP. 

O caso está a ser investigado, mas só será possível perceber o que aconteceu depois de concluídos exames de toxicologia que vão ser feitos em Coimbra, disse ao PÚBLICO a responsável do gabinete de comunicação do Hospital do Divino Espírito Santo (Ponta Delgada). O estudante terá entrado pelo seu próprio pé no sábado ao final da tarde no hospital e acabou por morrer por volta da meia-noite, precisou, escusando-se a adiantar mais informações.

O vice-presidente do instituto de Medicina Legal, João Pinheiro, confirmou à RTP que existem suspeitas de que o produto em causa poderá ser a referida substância e que vai ser necessário aguardar algum tempo porque a instituição não tem experiência na análise deste composto.

O caso foi divulgado depois de, na segunda-feira, a Interpol ter emitido um alerta sobre o 2.4 dinitrofenol, ou DPN, como é conhecido este produto potencialmente mortal. De venda ilícita há muito tempo, voltou ao mercado negro e tem sido usado como “produto de dieta e de ajuda ao desenvolvimento de músculos”, destacou a organização de cooperação policial, em comunicado.

Produzida em laboratórios clandestinos e vendida através da Internet sob a forma de cápsulas, pó ou creme, esta substância chegou a ser utilizada legalmente para estimular o metabolismo e ajudar a perder peso na década de 30 do século passado, mas foi proibida depois de ter provocado várias mortes.

A Interpol, que divulgou o alerta nos 190 países membros a pedido do Departamento Central de Luta contra os Atentados ao Ambiente e à Saúde Pública (OCLAESP) do Ministério do Interior francês, avisou justamente que os riscos ligados à utilização deste produto são agravados pelas condições ilegais de produção.

O DNP é um acelerador do metabolismo extremamente potente. Foi uma dose elevada deste produto que causou a morte de Eloise Perry, 21 anos, em Abril passado. A jovem britânica tomou oito comprimidos deste produto, quando apenas dois corresponderiam a uma dose letal, e literalmente morreu queimada por dentro porque a substância elevou a sua temperatura para níveis fatais, provocando paragem cardíaca. 

Trata-se de um "composto químico usado pela indústria para o fabrico de pesticidas e de explosivos", esclarece Alejandro Santos, especialista do Centro de Bioquímica e professor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto. O especialista avisa que pode provocar “hipertemia maligna”, chegando a elevar a temperatura corporal até 43, 44 ou 45 graus Celsius.

"O que é espantoso é que esta molécula deixou de ser utilizada como medicamento há quase cem anos", frisa, acrescentando que actualmente é distribuída "totalmente à margem da lei" e que todo o cuidado é pouco porque, mesmo em doses relativamente baixas, pode ter efeitos adversos e mesmo fatais.

Quanto ao facto de ser popular no mundo do culturismo, Alejandro Santos explica que a comunidade de culturistas adere com muita facilidade ao uso de substâncias que possam ter efeitos favoráveis da definição da massa muscular. “Experimentam de tudo, desde esteróides anabolizantes até insulina”, exemplifica.

Como forma de prevenção, Alejandro Santos lembra que “não há pílulas mágicas nem milagres” para perder peso depressa e que só a aposta num um estilo de vida saudável, aliando a dieta à prática regular de actividade física, pode ajudar a combater o problema da obesidade.

 

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