Morreu o jornalista Miguel Gaspar, director adjunto do PÚBLICO

Velório a partir das 16h deste domingo nos Jerónimos. Funeral realiza-se na segunda-feira.

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Rui Gaudêncio
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Daniel Rocha

Teve uma vida dedicada à imprensa, como o próprio definiu na biografia publicada no site do PÚBLICO. Passou quase toda a sua vida nos jornais diários. “Muitos anos no Diário de Notícias e desde 2007 no PÚBLICO. Um dia escrevo uma tese sobre os dois.” Miguel Gaspar, director adjunto do PÚBLICO, morreu na madrugada deste domingo aos 54 anos. Estava internado há algumas semanas, em Lisboa, e tinha um cancro no pâncreas.

“Aterrei no jornalismo em 1986 vindo directamente do curso de Filosofia. Troquei Platão pela secção de polícias do Correio da Manhã e de idealista passei a tarimbeiro”, escreveu então, sobre o início da sua carreira como jornalista no CM em 1986.

"O Miguel faz-nos muita falta. Para pensar, para planear e para discutir as coisas pequenas e as coisas grandes do mundo. E, para além de tudo isso, para nos fazer rir, como ninguém, quando, com uma única frase, virava o mundo ao contrário”, diz Bárbara Reis, directora do PÚBLICO. Miguel Gaspar era director adjunto do PÚBLICO desde 2009, tendo integrado a equipa dois anos antes como editor da secção Mundo.

Para António José Teixeira, director da SIC Notícias, onde Miguel Gaspar era comentador habitual em matéria de política nacional, “há poucos jornalistas com o perfil do Miguel, ele era um jornalista muito completo”. Amigo de longa data de Miguel Gaspar, com quem trabalhou no Diário de Notícias (DN) e onde o conheceu no início dos anos 1990, o director do canal de televisão lembra como era interessante falar e discutir com ele, notando que a sua formação em Filosofia trouxe-lhe esse olhar mais largo.

"Era um espírito crítico, muito livre na sua observação do mundo”, continua António José Teixeira, que o convidava regularmente para comentar a actualidade na televisão. “Era convicto nas ideias que tinha, lutava por elas. Era muito despojado, um homem modesto e ao mesmo tempo entusiasmado. Ele lia muito, tinha muitas referências e partilhava-as, não era arrogante nem sobranceiro, pelo contrário. Chamávamo-lo muitas vezes à televisão porque nos interessava esse lado distanciado e solto”, conta. “O Miguel aceitava todos os desafios, podia ser um jogo de futebol, um filme, um debate político ou um assunto de política internacional.”

Como cronista, Miguel Gaspar assinava no PÚBLICO a coluna Uma Linha a Mais, onde conseguia cruzar todos os temas da actualidade com uma ironia muito característica, bem espelhada no título que escolheu para o seu espaço de opinião. Já em 2009, José Medeiros Ferreira elogiava o seu trabalho como colunista: “Há muito que me habituei a ler com atenção o jornalista Miguel Gaspar. Se não fosse jornalista de profissão, seria considerado um dos grandes colunistas (...). Escreve no PÚBLICO um artigo com um sugestivo título O Governo oculto. Mas não é só sobre este governo. É sobretudo sobre a fraqueza dos poderes públicos em Portugal, com os resultados que estão à vista.”

A jornalista Marina Almeida, que trabalhou com o jornalista no lançamento do site da TSF em 2000, recorda a forma “muito empenhada” com que Miguel Gaspar trabalhava. “O Miguel era um agregador de equipas, ele motivava-nos imenso, punha-nos a trabalhar”, recorda ao PÚBLICO a jornalista que continuou a trabalhar com ele quando ambos passaram para o Diário de Notícias. Miguel Gaspar era o editor da secção de Media do DN, que Marina Almeida integrava: “Era uma alegria no trabalho, o Miguel puxava pelo melhor de nós.”

Miguel Gaspar foi crítico de televisão durante dez anos (no DN, em O Independente e na Rádio Renascença). Em 2005, foi distinguido com o Prémio de Crítica de Televisão da Casa da Imprensa. No mesmo ano, António José Teixeira, então director do DN, nomeou Miguel Gaspar editor executivo. Quando, em 2007, Teixeira saiu, Miguel Gaspar assumiu interinamente a direcção do jornal. Pouco depois entrava no PÚBLICO.

"Ele era uma pessoa fantástica, inteligente e culta”, resume Nuno Azinheira, actual director da Notícias TV, suplemento do DN, que Miguel Gaspar foi buscar ao Correio da Manhã (CM) para editor adjunto da secção de Media. “Só aceitei porque ia trabalhar com o Miguel. Essa mudança só fazia sentido porque ia trabalhar ao lado de uma pessoa que admirava, [de quem] gostava muito e com quem podia aprender”, justifica, sublinhando que no jornalismo só existem “cinco ou seis pessoas” que admira e Miguel Gaspar era uma delas.

"O Miguel era um daqueles jornalistas cheios de cultura e capazes de escrever sobre o futuro dos media, mas também sobre a América de Bush ou o Festival de Cinema de Cannes”, recorda Leonídio Paulo Ferreira, actualmente subdirector do Diário de Notícias e que trabalhou com Miguel Gaspar no mesmo jornal. Leonídio Paulo Ferreira recorda ainda o bom humor e a boa disposição permanentes do jornalista.

Também Eurico de Barros, jornalista e antigo colega do DN, recorda o amigo e companheiro de trabalho. “[Tinha] uma capacidade de análise que nos obrigava a pensar.” “Faz muita falta ao jornalismo.”

Miguel Gaspar deixa dois filhos, João, de 20 anos, e Tiago, de 19 anos. O velório é a partir das 16h deste domingo, na capela mortuária do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Na segunda-feira, a missa de corpo presente será às 16h30, presidida pelo sacerdote e poeta José Tolentino de Mendonça. O funeral seguirá para o cemitério de Barcarena onde o corpo será cremado.

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