Morreu Fernando Ferreira da Costa

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O escritor e pioneiro do movimento cooperativo em Portugal, Fernando Ferreira da Costa, morreu ontem num hospital de Lisboa, aos 78 anos de idade. O corpo de Fernando Ferreira da Costa ficará em câmara ardente a partir das 17h00 de hoje na Basílica da Estrela e o funeral realiza-se às 13h00 de amanhã para o Cemitério do Alto de São João.

Segundo afirmou à Lusa a arquitecta e deputada Helena Roseta, que era amiga do autor, Fernando Ferreira da Costa faleceu às 21h30 de ontem, no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, vítima de doença prolongada.
Helena Roseta destacou que Fernando Ferreira da Costa foi o primeiro objector de consciência em Portugal em 1949, quando se recusou a fazer o serviço militar obrigatório por questões religiosas.

"Foi um pacifista convicto", disse Helena Roseta, recordando também o papel de Fernando Ferreira da Costa no desenvolvimento do cooperativismo em Portugal, criando, em 1976, o Instituto António Sérgio.

As suas convicções religiosas levaram-no a aderir, ainda jovem, ao movimento cristão Metanóia, um grupo de precursores da vida em comunidade, que chegou a estabelecer-se em Trás-os-Montes para alfabetizar a população local.

"Vendeu tudo o que tinha e comprou evangelhos de São João para distribuir às pessoas", referiu igualmente a amiga de Fernando Ferreira da Costa.

Em declarações à Lusa, a viúva, Fátima Ferreira da Costa, frisou que o marido esteve preso durante dois anos "não apenas pela objecção de consciência, mas também porque o associativismo era proibido pelo regime salazarista".

"Luta constante no contra-poder"


"Ele queria ser recordado sobretudo pela luta constante no contra-poder", comentou igualmente Fátima Ferreira da Costa.


Nascido em Lisboa, com ascendência são-tomense, Fernando Ferreira da Costa foi aluno de António Sérgio, um dos maiores pensadores portugueses do século XX, e viria a fundar, a seguir ao 25 de Abril de 1974, com Henrique de Barros, um instituto com o seu nome, dedicado ao cooperativismo.
Foi também professor na Faculdade de Economia de Lisboa e "depois de ter sido afastado da presidência do instituto nos anos 80" continuou a dedicar-se ao cooperativismo, desenvolvendo iniciativas que estiveram na origem das primeiras organizações não-governamentais em Portugal, ao lado de figuras como Fernando Nobre, actualmente presidente da Assistência Médica Internacional.

O seu primeiro livro, intitulado "O Movimento Cooperativo Britânico", foi publicado em 1956, com um prefácio do seu mentor António Sérgio.

Ainda de acordo com a viúva, nos últimos anos dedicou-se à escrita de dramaturgia e poesia, publicando diversas obras, entre as quais "Teatro do Imaginário Angular" e "Mar e Mágoa" (poesia). Nos anos 80 foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique.

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