Morreu bombeiro do Estoril ferido no Caramulo

Bombeiro de 23 anos não resistiu aos ferimentos.

Foto
Rafael Marchante/Reuters

O bombeiro Bernardo Figueiredo, de 23 anos, ferido durante o incêndio na Serra do Caramulo na passada quinta-feira, morreu na última madrugada.

O comandante dos Bombeiros Voluntários do Estoril, Carlos Coelho, disse à Lusa que Bernardo Figueiredo não resistiu aos ferimentos e que morreu perto da 1h00 desta terça-feira. Bernardo Figueiredo tinha 23 anos e pertencia aos bombeiros voluntários há cerca de cinco anos, acrescentou ainda Carlos Coelho.

O comandante garantiu, contudo, que o bombeiro tinha uma formação “muito acima da média” no combate a incêndios florestais. <_o3a_p>

“Era uma pessoa que estava preparada em termos de formação, fisicamente [estava] extremamente apto. Uma pessoa com um nível operacional muito acima da média”, afirmou Carlos Coelho. <_o3a_p>

O comandante referiu que Bernardo Figueiredo, que estava no corpo de bombeiros dos Voluntários do Estoril há cinco anos, “fez o seu percurso como recruta na escola para bombeiro de 3.ª”. “Após isso fez uma formação diferenciada, nomeadamente de grupos de 1.ª intervenção de combate a incêndios florestais”, disse. <_o3a_p>

O corpo está no hospital de São João, no Porto, para onde foi transferido depois de ter ficado ferido na quinta-feira no fogo na Serra do Caramulo. Bernardo Figueiredo estava no mesmo grupo de Rita Pereira, a bombeira de Alcabideche que também morreu no combate ao incêndio.

“Infelizmente não foi possível evitar as mortes da Rita e do Bernardo”, lamentou Carlos Coelho. Isto porque, “infelizmente, o comportamento do fogo não é o comportamento de uma ciência exacta”. “Há diversas condicionantes, desde a morfologia do terreno até às condições climatéricas que estavam no local. [Neste caso], essencialmente uma mudança de vento brusca, por aquilo que dá a entender”, referiu.

Porém, o comandante não considera que haja falta de condições no combate aos fogos florestais: “A função de bombeiro é uma função de risco, desvalorizada possivelmente por grande parte da sociedade, mas é extremamente arriscada. E face ao número de ignições que tem havido nos últimos tempos, incêndios com comportamentos extremamente diferentes do que por vezes nós temos encontrado, pode levar a que haja comportamentos em que nada é previsto”. <_o3a_p>

Liga dos Bombeiros fala em "momento dramático"
Em reacção à morte, o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses afirmou que este é “mais um momento dramático” para os bombeiros, mas garantiu que a classe não irá esmorecer. <_o3a_p>

“É mais um momento dramático para os bombeiros portugueses, doloroso de ultrapassar. Morre um português que deu a sua vida ao serviço do nosso país, da nossa pátria, e isto deixa marcas profundas nos bombeiros portugueses”, disse Jaime Marta Soares, em declarações à Lusa. “Não nos deixaremos soçobrar perante a desgraça, mas que deixa marcas muito profundas, isso deixa”, sublinhou.

Jaime Marta Soares admitiu, no entanto, que a morte dos bombeiros em combate não poderia ter sido evitada, explicando que “o inimigo é traiçoeiro”. “Os bombeiros têm uma preocupação muito grande de debelar e combater o inimigo, mas este inimigo é muito forte, é traiçoeiro e tem todas as armas à sua disposição, mesmo a negligência da floresta”, referiu. <_o3a_p>

O responsável sublinhou que os incêndios contam com causas como o “clima extremamente alterado” e os fogos postos. O número crescente de ignições “é uma coisa inacreditável”, disse, referindo que “chega a haver 300 incêndios ao mesmo tempo, chegam a ser lançados fogos seguidos, cinco, dez, quinze, num raio de 20/30 quilómetros”.

Dois outros bombeiros ficaram ainda feridos no mesmo fogo, mas sem gravidade tendo sido transferidos para hospitais da área de residência.

No domingo o incêndio na Serra do Caramulo, que ardia desde a primeira hora do dia 21 e que foi dos maiores incêndios activos no país na última semana, foi considerado dominado ao fim da tarde, pouco depois das 19h.

Reveja a cronologia dos principais incidentes no combate a fogos em 2013.

11 incêndios activos
Na manhã desta terça-feira, de acordo com a informação disponível no site da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), estavam activos 11 incêndios de grandes proporções que contavam com o apoio de mais de 900 bombeiros e de 260 veículos.

Em relação aos distritos dois fogos lavravam no Porto, um dos quais no concelho de Amarante e outro em Paredes. Em Vila Real estavam activos dois incêndios, um em Mondim de Basto e um no Peso da Régua. Viana do Castelo tentava também combater um incêndio numa zona de mato em Arcos de Valdevez.

Em Viseu, ainda segundo a ANPC, estavam activos quatro fogos nos concelhos de Mangualde, Resende, Cinfães e Oliveira de Frades. Neste último concelho, na zona de Feitalinho e Arcozelo das Maias, lavrava um incêndio com três frentes e que é o que está a mobilizar mais meios em todo o país: 375 operacionais, mais de 110 veículos e um meio aéreo.

No distrito da Guarda continuava activo um fogo em Vila Nova de Foz Côa e em Bragança os bombeiros continuavam a combater as chamas no concelho de Vila Flor que deflagraram durante a madrugada.

Na segunda-feira, a ANPC registou 317 incêndios, que foram combatidos por 4952 operacionais, com o auxílio de 1339 veículos. Desde a meia-noite desta terça-feira já foram registadas 97 ocorrências, sendo que só 17 estão em curso, 11 das quais com grandes proporções.

Risco muito elevado
Em relação ao risco de incêndio, nesta terça-feira o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou 30 concelhos do Norte e Centro de Portugal continental em risco máximo. O risco de incêndio determinado pelo IPMA engloba cinco níveis, variando entre reduzido e máximo. O cálculo é feito com base nos valores observados às 13h00 de cada dia da temperatura do ar, humidade relativa, velocidade do vento e quantidade de precipitação ocorrida nas últimas 24 horas.

Nesta situação estão Caminha e Ponte da Barca (Viana do Castelo), Cabeceiras de Basto (Braga), Valongo (Porto), Castelo de Paiva e Arouca (Aveiro), Cinfães, Resende, Castro Daire, São Pedro do Sul, Vila Nova de Paiva, Moimenta da Beira, Sernancelhe e Mangualde (Viseu),Sabugal, Guarda, Celorico da Beira, Fornos de Algodre, Aguiar da Beira e Trancoso (Guarda), Arganil, Góis, Pampilhosa da Serra (Coimbra), Castanheira de Pera, Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos (Leiria), Oleiros, Sertã e Vila de Rei (Castelo Branco) e Mação (Santarém).

Acompanhe o trabalho especial do PÚBLICO sobre incêndios e florestas e consulte as previsões do site de meteorologia do PÚBLICO.
 

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