Misericórdias portuguesas recebidas pelo Papa num "encontro simbólico"

União das Misericórdias Portuguesas levou a Francisco o trabalho que tem sido feito em prol dos refugiados no país.

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O Papa Francisco saúda a multidão à chegada à audiência desta quarta-feira na Praça de São Pedro AFP/GABRIEL BOUYS

O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos, reuniu-se nesta quarta-feira com o Papa Francisco, no Vaticano, num encontro que considerou simbólico e que foi "o reconhecimento", pelo pontífice, das Misericórdias portuguesas.

"O encontro foi mais um gesto simbólico que registamos com imenso apreço, honra e privilégio de estar junto de sua santidade", disse à agência Lusa Manuel Lemos, no final da audiência que decorreu na praça de São Pedro, onde esteve acompanhado pelo presidente da Mesa da Assembleia Geral da UMP, José Silva Peneda.

Manuel Lemos adiantou que foi uma audiência conjunta, em que estava "muita gente de muitas nações", que não permitiu uma conversa demorada com o Papa Francisco sobre o apoio das Misericórdias aos refugiados. "O encontro teve um carácter muito simbólico que, no fundo, foi o reconhecimento do Papa das Misericórdias", sublinhou.

O presidente da UMP contou que já tinha estado em audiências com o Papa João Paulo II e com o Papa Bento XVI, que "eram muito mais formais" do que o actual pontífice. "O Papa Francisco é muito mais informal e, por isso, muito mais apaixonante", comentou.

Da deslocação ao Vaticano, Manuel Lemos destacou o encontro com o cardeal Antonio Maria Vegliò, presidente do Conselho Pontifício para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, em que falou sobre o trabalho desenvolvido pelas Misericórdias junto dos refugiados, no sentido de contribuir para a sua integração social nas comunidades.

"Foi uma conversa muito longa, muito profunda a sós com o cardeal, em que percebemos que a Igreja Católica está muito preocupada" com a situação dramática dos refugiados.

Está também com "grande vontade que os católicos, e os europeus de uma maneira geral, colaborem numa lógica da sua grande tradição humanitária, de acolher e integrar as pessoas", disse Manuel Lemos.

Na conversa que manteve com o cardeal Vegliò, Manuel Lemos falou do sofrimento dos refugiados e da sua integração nas comunidades que os recebem. "Estava a dizer ao cardeal como é que as pessoas, que já vêm tão sofridas da deslocação, se inserem [nas comunidades] e o cardeal olhou para mim e disse: 'Eles e vocês, os que acolhem'." Com estas palavras o cardeal quis dizer que "a chegada destas pessoas em grande número também provoca uma alteração nos locais" onde chegam, explicou Manuel Lemos.

A este propósito, foi abordada a questão da língua, a "grande dificuldade" no apoio aos refugiados. "A língua é um problema terrível", disse à Lusa Manuel Lemos, que contou que, até ao momento, as Misericórdias têm recebido, sobretudo, etíopes e eritreus, que não falam uma palavra em português. "Se não tivermos rapidamente o apoio do Ministério da Educação", em termos de tradutores, "vai ser muito complicado".

Fazendo um balanço da deslocação a Roma, Manuel Lemos disse que "foi um sucesso", porque conseguiram "fazer chegar ao Vaticano" o trabalho realizado pela Misericórdias, mas também pelo "simbolismo de o Papa" os incluir na sua audiência.

A UMP integra a Agenda Europeia para as Migrações, liderada em Portugal pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, e já acolheu cerca de 40 refugiados.

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