Ministro “coisíssima nenhuma”!

Vítor Gaspar ainda é o ministro das Finanças de Portugal.

Teve a oportunidade concedida a quem é ministro de, há dias, na Assembleia da República, que politicamente o sustenta, informar que não foi eleito “coisíssima nenhuma". Temos de vasculhar no Google como é que um ministro o é sem a legitimidade do voto. Ele há, como é óbvio, muitas hipóteses que disso não passam, pois um ministro não eleito exerce funções que só um eleito deveria exercer.

Será que foi eleito pelos comissários da troika? Tomou de assalto o ministério ou recebeu-o por via hereditária? O ministro tem razão: não foi eleito. Tanto mais que seria impensável estultícia que o povo português fosse agora votar em Gaspar para gerir os dinheiros públicos!

O ministro “coisíssima nenhuma” ignora o sistema eleitoral donde lhe vem a legitimidade democrática para governar, ainda que o faça anti-democraticamente. Não espanta pois apenas absorve Excel e Finanças em fascículos, e é-lhe indiferente a Constituição donde lhe vem o poder e o dever!

Se o ministério é dele, coisa própria e alienável, há aquela dificuldadezinha em perceber como trata o que é dele com a displicência com que os néscios tratam as coisas alheias, no caso, a “res publica”.

Na verdade, para este ainda-ministro não eleito, o país e o povo constituem o terreno fértil onde lança as sementes variadas que sempre produzem, independentemente da estação do ano, os mesmos produtos: dívida a subir por mais que o ministro diga que paga; desemprego idem; consumo a descer; economia a afundar; e, o seu supremo êxtase, baixa de salários, reformas e subsídios.

Adiciona vitórias sobre vitórias, até à derrota final: um milhão de desempregados em escalada ascendente; dezenas de famílias e empresas aos milhares a falir; sempre a subir, quanto mais assalta o bolso para pagar o défice, mais este pula. Gaspar veste a pele de Schwarzenegger/Exterminador caseiro. E cinicamente chama ao cenário dantesco que criou e alimenta “esforço de uma geração”!

Prepara, afincadamente, acumulando o saber da sua experiência de ministro, uma tese em formato Excel: “De Como Empobrecer o País e o Povo”. Captou, em profundidade, a necessidade do empréstimo internacional que subjuga o país: pediu emprestado também para pagar salários, pensões, subsídios. Baixa subsídios, pensões e salários para pagar empréstimos.

Vítor Gaspar, ainda-ministro e ministro-ainda, quando lhe apontarem a porta de saída das Finanças, já tem emprego garantido. Vai exercitar a sua tese, sem sucesso algum, num dos “pigs” – como eles dizem e nos injuriam – da Europa Meridional, sob a orientação de uma entidade superior, isenta e científica que, onde chega, diz a História, leva tudo ao fundo: o FMI!!!

Este ainda-ministro tem uma secretária, entre outras, que lhe alomba servilmente a pasta, naquelas tarefas menos dignas e elevadas de ministro: vender dívida e negociar essas coisas muito lucrativas e investimentos muito rentáveis para os bancos! E prejuízos monstruosos para o erário público! Mas isso que interessa, desde que a secretária continue a levar-lhe a pasta e que o ministro jure que não, que os tais swaps são negócio transparente em que ganham todos. Menos o Estado. E para que a gente nem entenda as negociatas, dão-lhe aquela designação importada. Swaps! Acusam-se uns aos outros e o povo fica a saber que não percebe senão uma coisa: mais um buraco de milhões que vai ter de pagar!

E, como o ministro sobejamente já provou, o Tribunal Constitucional (TC) só escreveu impropérios e sem fundamento algum. Até esses, na boca do TC, têm de ser fundamentados. Como não fundamentou e só poderia ter fundamentado se de acordo com os génios do Governo, o ainda-ministro já anunciou: com ou sem TC, no próximo ano, não há subsídios para os outros. Só nos gabinetes do ministro e sua secretária.

O ministro vai dedicar muitas páginas da sua tese de doutoramento a explicar isto e essa coisa esquisita dos swaps. Negócios de prejuízos! E de corrupções!

Teimoso, o povo português não entende. Problema dele que os problemas do povo não são do Governo! Pela comezinha razão de que, não tendo o ministro sido “eleito coisíssima nenhuma” não lhe é dado representar o povo. Actua em nome próprio. O Estado é dele.

Procurador-Geral Adjunto
 

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