Ministério Público admite que houve "ponderação política" em tempo de campanha eleitoral

Procurador Marques Vidal reconheceu que houve buscas adiadas, para não coincidirem com a campanha das legislativas, negou ter qualquer "acrimónia" em relação a Armando Vara e criticou o ex-procurador-geral da República Pinto Monteiro.

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Armando Vara em Aveiro, quando foi ouvido no DIAP sobre o caso Adriano Miranda

O procurador do Ministério Público (MP) Marques Vidal rejeitou nesta segunda-feira, no tribunal de Aveiro, que o caso Face Oculta seja um processo político, mas reconheceu que houve "ponderação política", quando foi decidido adiar as buscas domiciliárias.

Segundo Marques Vidal, as buscas levadas a cabo pela Polícia Judiciária, no âmbito do processo, deveriam ter começado logo após terem sido desactivadas as escutas, mas só ocorreram no final de Outubro de 2009, um mês após a realização das eleições legislativas.

"Foi uma decisão com ponderação política. Não ignorávamos a perturbação de cair no meio da campanha eleitoral", afirmou o magistrado, que falava durante as réplicas do MP, após o termo das alegações finais dos defensores dos 36 arguidos.

O procurador da República rejeitou ainda que as provas tenham sido manipuladas e que o processo tenha sido um ajuste de contas com o poder político que reinava em 2009, como sustentou o advogado do ex-ministro Armando Vara, co-arguido no processo. "Isso não aconteceu", afirmou Marques Vidal, que disse falar em defesa da honra dos investigadores que estiveram no terreno, alguns dos quais com "carreiras importantes no mundo judiciário".

Apesar de não aceitar que o caso Face Oculta seja um processo político, Marques Vidal admitiu que essa dúvida poderia colocar-se quando o processo estava em segredo de justiça e defendeu que o ex-procurador-Geral da República Pinto Monteiro devia ter esclarecido essa questão. "Quem era na altura responsável pelo MP devia ter vindo a terreiro esclarecer se era ou não era um processo político. Não acho normal que haja a suspeita e que não haja a resposta", sublinhou.

O magistrado negou ainda ter alguma "acrimónia" contra o arguido Armando Vara, uma ideia que também foi avançada pelo defensor do antigo ministro e ex-administrador do BCP. "Isso não é verdade. Considero-o uma pessoa simpática e inteligente e não vejo fundamento para essa acusação", referiu.

O julgamento do processo Face Oculta prossegue na sexta-feira, com a réplica da advogada da Refer, seguindo-se os restantes assistentes e os defensores. As últimas declarações dos arguidos estão marcadas para a próxima terça-feira.

O processo Face Oculta está relacionado com uma alegada rede de corrupção que teria como objectivo o favorecimento do grupo empresarial do sucateiro Manuel Godinho, nos negócios com empresas do setor empresarial do Estado e privadas.

Entre os 36 arguidos estão personalidades como Armando Vara, antigo ministro e ex-administrador do BCP, José Penedos, ex-presidente da REN, e o seu filho Paulo Penedos.

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