Ministério está a recrutar "classificadores" para prova de avaliação dos professores
Professores vão receber três euros pela correcção de "resposta extensa".
Os professores de Português que fazem as correcções dos exames nacionais do ensino secundário começaram na noite desta segunda-feira a ser convidados para corrigir a prova de avaliação de conhecimentos e de capacidades (PACC) que os colegas, docentes sem vínculo à função pública, terão de fazer no dia 18, se se quiserem candidatar a dar aulas no próximo ano.
O guião da prova ainda não foi publicado, mas o e-mail permite perceber que a parte comum da prova que habilitará milhares de professores para a docência terá uma única questão de desenvolvimento, cuja correcção valerá três euros.
O “convite” foi enviado pelo Instituto de Avaliação Educativa, IP (IAVE) a alguns professores correctores, segundo confirmou Paulo Guinote, o autor do blogue A Educação do Meu Umbigo, que divulgou o teor do e-mail, na noite de segunda-feira. Nele indica-se que “o papel do classificador implica a classificação, em média, de 100 respostas a um item de resposta extensa, o que corresponde a 100 provas”.
“Cada resposta terá entre 250 e 350 palavras, aproximadamente”, indica o IAVE, que acrescenta que a tarefa será desenvolvida “em regime de acumulação, previsivelmente durante a interrupção lectiva” do Natal, “auferindo o valor de 3 euros por resposta classificada”. Na mensagem é pedido aos professores que “caso não pretendam” participar no projecto informem o MEC até à próxima quarta-feira, dia 14.
Fenprof contra
A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) apela aos docentes dos quadros para que recusem ser correctores e "serem pagos, com dinheiro extorquido aos seus colegas desempregados e precários, para que contribuam numa farsa destinada, por um lado, a denegrir a imagem dos profissionais docentes e, ao mesmo tempo, a afastar muitos deles da profissão."
Este procedimento do ministério "é deplorável e revela bem o ponto a que os seus responsáveis já chegaram para tentarem atingir os seus objectivos. Virar professores contra professores passa a ser agora estratégia assumida", escreve a Fenprof em comunicado.
O PÚBLICO aguarda que o MEC confirme o envio destas mensagens e preste outras informações sobre o processo de classificação. Este já está a provocar reacções de professores. Arlindo Ferreira, por exemplo, divulgou esta terça-feira no Blog deAr Lindo o texto de um abaixo-assinado a correr entre docentes do quadro da Escola Francisco de Holanda, de Guimarães, que avisam que não aceitarão vigiar a realização da PACC ou corrigir as provas que têm uma componente comum (a realizar dia 18 de Dezembro) e outras específicas, de acordo com os diversos grupos de recrutamento, que serão feitas dentro de alguns meses.
Entretanto, nas redes sociais continuam a crescer os apelos ao boicote à prova e às manifestações de protesto.
Na tarde desta terça-feira, uma dezena de professores ensaiou um protesto no parlamento, acenando com notas de vinte euros – tanto quanto os docentes têm de pagar pela inscrição na prova – quando o ministro da Educação e Ciência terminou a sua primeira intervenção sobre o Orçamento do Estado. Conseguiu que os trabalhos fossem interrompidos durante uns momentos, enquanto a polícia os fazia abandonar as galerias.