Miguel Carmo nega ter arremessado cadeira no dia da carga policial no Chiado

Juíza não permitirá que julgamento seja sobre a manifestação ou “actuação” da polícia.

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Confrontos deram-se em 2012 no Chiado Patrícia de Melo Moreira

O engenheiro do ambiente Miguel Carmo, acusado do crime de resistência e coacção por alegadamente ter arremessado uma cadeira contra polícias, começou nesta quinta-feira a ser julgado em Lisboa. Acusação e defesa têm relatos diferentes sobre o dia 22 de Março de 2012 quando, numa manifestação em dia de greve geral, um estivador foi detido, o que desencadeou confrontos que acabaram com feridos, no Chiado, em Lisboa. O arguido nega ter atirado a cadeira, um polícia garante ter visto.

A defesa tentou provar que a agressividade partiu da polícia e não dos manifestantes, que “a polícia agiu com carga policial injustificada”. Já os agentes garantem que havia hostilidade da parte dos manifestantes. No entanto, a juíza deixou claro que não permitirá que o julgamento seja sobre a manifestação, sobre o comportamento de outros manifestantes ou da polícia. O único aspecto que importa apurar, considera, é se o arguido cometeu ou não o crime de que está acusado.

“Não estamos a julgar a manifestação, nem a actuação da polícia, mas o que aquele senhor fez. Não vou permitir que este julgamento se transforme num julgamento sobre a manifestação ou sobre o comportamento dos polícias”, afirmou, depois de a advogada de Miguel Carmo ter perguntado ao comissário por que não foi usado megafone para dispersar as pessoas.

Quando começou a falar, Miguel Carmo fez questão de dizer que participa em manifestações: “Participo em várias manifestações, pelo menos desde o tempo do Governo Sócrates, espero que isso não faça de mim mais criminoso do que a maior parte das pessoas.” De acordo com a versão que contou, alguns manifestantes ficaram “indignados” com a detenção do estivador, homem de meia-idade com pacemaker, que estaria a rebentar petardos. O estivador – que acabou absolvido – estaria, disse o arguido, a ser “arrastado pelo chão”. Miguel Carmo sublinhou que a primeira abordagem dos manifestantes terá sido verbal, perguntando aos agentes o que estavam a fazer e só depois de já haver pessoas agredidas é que começaram a ser arremessados objectos, como caixas de guardanapos. Em concreto sobre a cadeira, admite que no meio da confusão, possa ter desviado, dado um safanão numa para conseguir fugir.

Já o comissário da PSP Tiago Gonçalves frisou que os manifestantes tentaram “obstar” a detenção e que foram arremessados objectos, como chávenas, garrafas, “o que estava em cima das mesas”. Sobre a cadeira, não viu o arguido a atirá-la. O único que o terá visto é o agente Fábio Máximo, já que o terceiro agente da PSP ouvido, Pedro Ferreira, também não viu. Este terá visto uma cadeira a voar na sua direcção, tendo depois ouvido que o responsável “foi o de azul”: “Olhei e vejo este senhor a olhar, a esquivar-se e a tapar a cara”, contou.

Miguel do Carmo não foi identificado na manifestação. Foi só depois que o agente Máximo redigiu o auto, através de imagens da Internet e de informações do Núcleo de Informações da PSP. A próxima sessão do julgamento é para a semana.

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