Suspeito de fraude de milhões detido pela PJ quando ia a pé para Fátima

Grupo que detém cadeia de lojas Feira dos Tecidos, com estabelecimentos em todo o país, é suspeito de fraude fiscal e branqueamento de capitais. Nove detidos em megaoperação com buscas em escritórios de advogados e de contabilidade.

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A investigação foi conduzida pela Polícia Judiciária de Aveiro

O dia mal tinha começado e o gerente de uma das empresas envolvidas num alegado esquema de fraude fiscal que terá lesado o Estado em várias dezenas de milhões de euros cumpria mais uma etapa da sua peregrinação a Fátima, a pé. O plano era caminhar apenas alguns quilómetros por dia, compatibilizando assim a peregrinação com a vida profissional. No dia seguinte o empresário deveria voltar ao local onde ficara no dia anterior e caminhar mais uns quilómetros.

Mas o plano foi interrompido pela Polícia Judiciária, que lhe vigiava os passos há algum tempo. Inspectores interceptaram esta quarta-feira o suspeito na zona da Mealhada e detiveram-no. A polícia acredita que será o mentor da fraude.

Pela mesma altura, a PJ dava início à megaoperação Fazenda Branca na área do Porto, Lisboa, Coimbra e Braga na qual foram detidas outras oito pessoas, entre os 38 e os 63 anos, também suspeitas de fraude fiscal, associação criminosa e branqueamento de capitais. Os detidos começam esta quinta-feira a ser ouvidos por um juiz do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) do Porto, que lhes aplicará as medidas de coacção. No centro da investigação está um grupo empresarial que detém a cadeia de lojas Feira dos Tecidos com estabelecimentos espalhados por todo o país.

Estranhamente, o site daquela cadeia dirige os interessados para uma empresa, a Life Go-Comércio, Serviços e Imobiliária, Lda, com sede no Porto, que no seu objecto não tem qualquer actividade têxtil. A sociedade dedica-se em primeira linha à compra e venda de imóveis, mas também possui o alvará para o aluguer de viaturas. Do seu objecto fazem ainda parte serviços de consultoria, importação, exportação, distribuição e representação de produtos e equipamentos para a indústria e comércio. O PÚBLICO contactou a empresa, mas ninguém atendeu o telefone.

A Life Go é maioritariamente detida por uma sociedade brasileira, a MCB Investimentos Imobiliários, e tem como sócios mais três portugueses, um dos quais já foi representante da firma brasileira em Portugal. A MCB é detentora de mais quatro sociedades portuguesas, duas das quais dedicadas ao comércio de artigos têxteis. Na direcção destas empresas surgem sistematicamente os mesmos nomes, incluindo um dos sócios da Life Go, e as mesmas moradas, que são apresentadas simultaneamente como residência e como sede de algumas das sociedades.

Estes foram alguns dos locais visitados pela PJ do Porto, que mobilizou inspectores de todas as suas secções juntamente com inspectores da Autoridade Tributária e Aduaneira. Pelas 7h, a polícia batia também à porta de escritórios de contabilistas e de três advogados que estarão relacionados com a actividade suspeita desta empresa. Por isso, três dos quatro juízes do TIC do Porto e elementos do conselho distrital do Porto da Ordem dos Advogados acompanharam as buscas aos juristas que não foram, contudo, detidos.

O grupo é suspeito de ter lesado o Estado com o não pagamento de IRC e o recebimento indevido de IVA através de um esquema que contava com diversas empresas de fachada criadas em Espanha e cujos titulares oficiais serviam apenas de testas de ferro. Na verdade, serviriam para simular a circulação de mercadorias e de verbas, muitas vezes, com recurso a facturas falsas, adiantou ao PÚBLICO fonte da Judiciária. A PJ levou a cabo 30 buscas no âmbito deste inquérito dirigido pelo Departamento de Investigação e Acção Penal do Porto e aberto em 2012. Alguns factos em investigação remontam porém a 2010.

“As investigações permitiram indiciar a existência de um grupo organizado no sector da compra e venda de têxteis que, actuando de forma concertada e permanente, vinha efectuado transacções comercias sem proceder à respectiva declaração fiscal ou fazendo-o com falsidade, lesava a Fazenda Nacional em dezenas de milhões de euros em sede de IRC e IVA”, esclareceu a PJ do Porto em comunicado.

Durante a operação, os inspectores da PJ apreenderam ainda automóveis, milhares de euros em dinheiro e documentação relevante. Num apartamento de luxo, numa zona nobre da Foz, no Porto, a PJ apreendeu inúmeras obras de arte, nomeadamente pinturas de elevado valor, bem como um Porsche e um BMW.

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