Manifestação pelo fecho da central nuclear de Almaraz marcada para quinta-feira

Ambientalistas que convocaram o protesto em Lisboa, dizem que, pela sua idade, Almaraz já devia ter sido encerrada e que, "ainda em 2016, foi a central nuclear espanhola com maior número de notificações por incumprimentos de segurança".

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Varias organizacões portuguesas e espanholas organizaram em Junho do ano passado uma manifestacão pelo fecho da central de Almaraz. Rui Gaudêncio

Várias associações ambientalistas portuguesas e espanholas marcaram para esta quinta-feira uma manifestação junto ao consulado de Espanha em Lisboa para apelar ao fecho da central nuclear de Almaraz, em Espanha, que fica a cerca de 100 quilómetros de Portugal. Defendem que o problema não está na construção de um armazém temporário de resíduos nucleares. “O principal risco é ter em funcionamento uma central nuclear obsoleta” que “é uma bomba relógio”, diz também o PAN.

A polémica em torno da central de Almaraz foi avivada pelo facto de Madrid ter anunciado recentemente a instalação para armazenamento temporário de resíduos nucleares junto à central, que fica em Cáceres, junto ao rio Tejo, uma zona próxima dos distritos de Portalegre e Castelo Branco. A decisão foi tomada sem a consulta das autoridades portuguesas, em violação de uma directiva comunitária (que impõe análises ambientais para casos com possível impacto além fronteiras) e, por isso, Portugal ameaçou apresentar queixa junto da Comissão Europeia. Espanha veio já admitir que há espaço de manobra para o diálogo .

A Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, uma das associações que vai estar no protesto, refere em comunicado que, “ainda em 2016, Almaraz foi a central nuclear espanhola com maior número de notificações por incumprimentos de segurança, o último dos quais com Classificação de Perigosidade 1. Trata-se de um risco que será agravado com uma maior idade da central nuclear.”

A central nuclear espanhola mais próxima de Portugal tem dois reactores, tendo o primeiro começado a funcionar em 1981 e o segundo em 1983. A associação, que integra o Movimento Ibérico Antinuclear, lembra que “o projecto inicial previa um tempo de vida útil de 30 anos. No entanto, o Governo espanhol decidiu prolongar o seu prazo até 2020”, “tendo responsáveis já assumido publicamente que haviam solicitado ao Governo espanhol o prolongamento para 2030.”

Francisco Ferreira, presidente da Zero, diz que “o problema não está no armazém temporário. O principal risco é ter em funcionamento uma central nuclear obsoleta”. E, para a Zero, a decisão de construção de um armazém de resíduos nucleares junto a Almaraz “é um indício muito relevante da intenção de se prolongar, uma vez mais, o funcionamento" daquele complexo nuclear.

A convocação da manifestação para esta quinta-feira às 18h00 junto ao consulado de Espanha, que fica na Avenida da Liberdade, junto ao início da Rua do Salitre, tem o objectivo de apelar ao fecho da central, denunciando que “a verdadeira razão para a construção de uma instalação de armazenamento temporário de resíduos nucleares em Almaraz é a extensão do período da central”, algo que não é revelado nos estudos e na decisão tomada, critica o mesmo responsável.

2020, o prazo máximo

Também a associação ambientalista Quercus, que também faz parte do Movimento Ibérico Antinuclear, disse esta quarta-feira que é fundamental que o Governo português diga, de forma inequívoca, que não quer a central nuclear de Almaraz a funcionar depois de 2020.

Nuno Sequeira, desta associação, disse à Lusa que a conduta dos vários Governos portugueses tem sido de “passividade” e que é tempo de “o Governo português dizer de uma forma inequívoca que o nosso país não quer esta central a funcionar depois de 2020 e que a mesma deve encerrar, no máximo, por esta altura", sustentou.

O ambientalista sublinhou que, após o parecer favorável do Governo espanhol ao projecto apresentado pelo consórcio que explora a central nuclear de Almaraz para montar um armazém de resíduos nucleares, "confirma-se que existem fortes pressões em Espanha para que a central não encerre no prazo definido (2020)".

A Quercus também lembra que a central tem tido incidentes com regularidade e que “Portugal pode vir a ser afectado, caso ocorra um acidente grave, quer por contaminação das águas, uma vez que a central se situa numa albufeira afluente do rio Tejo, quer por contaminação atmosférica.” Acrescenta ainda que Portugal "não revela estar minimamente preparado para lidar com um cenário deste tipo, pelo que, a acontecer um acidente grave, que traria certamente sérios impactes imediatos para toda a zona fronteiriça, em especial para os distritos de Castelo Branco e Portalegre", cita a Lusa.

Também o PAN- Pessoas-Animais-Natureza se vai juntar aos ambientalistas de Portugal e Espanha na manifestação. Este partido político diz em comunicado que, “quando o depósito estiver construído, o Estado Espanhol tem o caminho facilitado para garantir o prolongamento do funcionamento da Central até 2030, pelo que é necessária uma intervenção que vá para além de queixas à União Europeia.”

O PAN diz que é preciso que o governo português faça uso “dos expedientes diplomáticos para impedir a construção do referido depósito e encerrar de vez a bomba-relógio que é a Central Nuclear de Almaraz.”

Também o Marea Granate Lisboa, um colectivo que reúne espanhóis residentes em Lisboa, fez saber que vai estar na concentração. “Estão a ser tomadas decisões de muito elevado risco para a saúde pública nossa e das futuras gerações”. Na nota que enviaram à imprensa escrevem: “como espanhóis que vivemos e amamos o país que nos acolhe, sentimos uma enorme raiva pela prepotência demonstrada pelo governo espanhol.”

Notícia actualizada às 17h08

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