Sobe para quatro o número de mortes por legionella

Há 180 doentes internados em vários hospitais, 24 dos quais nos cuidados intensivos. Linha de Saúde 24 já recebeu centenas de chamadas.

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Até às 12h00 deste domingo deram entrada no Hospital de Vila Franca de Xira 96 casos diagnosticados com a bactéria Enric Vives-Rubio

Nunca o país teve um surto desta dimensão. O ministro da Saúde anunciou às primeiras horas da noite deste domingo que serão encerradas ainda hoje as "principais torres de refrigeração" de fábricas das três freguesias do sul de Vila Franca de Xira mais afectadas pelo surto de legionella que já fez quatro mortos e mantém 180 doentes internados, ao mesmo tempo que estão a ser avaliadas casas particulares, dado registar-se "uma concentração [de casos] em algumas ruas" do concelho.

O governante disse que estão a ser feitos "todos estes esforços, por um lado, tendo em vista suspender potenciais focos da doença e, por outro lado, identificar a origem da doença", não descartando que nos próximos dias mais pessoas possam dar entrada nos hospitais.

"Foram feitas entre ontem [sábado] e hoje várias vistorias pela autoridade de saúde em centros comerciais e hotéis, tendo em vista analisar diversos pontos potenciais de foco da legionella", anunciou o governante, no final de uma reunião de emergência de quase cinco horas para avaliar o surto.

A última actualização feita pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) cerca das 20h30 deste domingo aponta para 180 casos notificados, 160 dos quais confirmados, sendo as freguesias de Vialonga, Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa as que registam maior incidência. Havia então quatro óbitos confirmados. Um quinto aguardava confirmação laboratorial.

O grupo de coordenação estava a actuar em três frentes. O próprio ministro da Saúde o explicou. Referia-se ao diagnóstico de tratamento de doentes, à investigação do foco de infecção e à prevenção. 

Segundo Paulo Macedo, não se procedeu apenas ao encerramento de torres de refrigeração das fábricas para desinfecção e desincrustação. Reforçou-se o cloro na água, desactivaram-se fontes de ornamentação e solicitaram-se novas colheitas em novos pontos de fornecimento de água e de torres de refrigeração. As medidas foram decididas com base nas análises preliminares feitas pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, assente em “dados fornecidos pela georreferenciação dos casos ocorridos”.

Tendo em conta potenciais focos de contaminação, delegados de Saúde Pública da Região de Lisboa fizeram várias vistorias em hotéis em grandes superfícies, incluindo centros comerciais. A DGS entende que não se justifica encerrar escolas. O presidente da câmara decidiu encerrar piscinas e balneários. Também as aulas de educação física serão suspensas até que o foco da infecção esteja determinado.

Estas medidas foram decididas numa altura em que a origem do surto permanece desconhecida e num dia marcado pelo avolumar do número de mortos e de casos de doentes infectados que continuam a chegar aos hospitais. Neste domingo morreram mais três pessoas infectadas com a bactéria da <i>legionella</i>  que estavam internadas no Hospital de Vila Franca de Xira e no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, elevando para quatro o número de mortes registadas deste sexta-feira.

Segundo uma nota distribuída pelo Hospital de Vila Franca de Xira, as duas últimas vítimas mortais naquela unidade foram um homem de 66 anos e uma mulher de 81 anos, “ambos com história clínica de patologia diversa e greve”. A quarta vítima mortal estava internada em Santa Maria e existe mais um caso de morte suspeita e que apenas aguarda confirmação laboratorial.

Em declarações aos jornalistas ao início da tarde deste domingo, o director-geral da Saúde, Francisco George, actualizou  o número de doentes internados em vários hospitais da Grande Lisboa: 24 estão em unidades de cuidados intensivos. As quatro mortes já confirmadas são de doentes que sofriam de outras patologias graves.

Estas três mortes vêm juntar-se à que ocorrera já na madrugada de sábado (um homem de 59 anos), fazendo subir para quatro o número de vítimas mortais do surto de legionella de origem ainda desconhecida que se iniciou na última sexta-feira e que tem afectado sobretudo as freguesias da zona sul do concelho de Vila Franca de Xira. Até ao início da tarde deste domingo, a Linha Saúde 24 tinha recebido mais de 200 pedidos de informação sobre a bactéria, que chegam sobretudo da zona afectada pelo surto em Vila Franca.

“O Hospital de Vila Franca de Xira activou os mecanismos necessários para responder a este aumento de procura excepcional, encontrando-se em articulação com as autoridades de Saúde. Neste momento, o tempo médio de espera no serviço de urgência é de 15 minutos”, refere uma nota do Hospital de Vila Franca.

Este domingo, as autoridades de Saúde continuavam à procura de focos de infecção em empresas e instalações fabris no concelho de Vila Franca de Xira. O presidente da Junta de Freguesia de Vialonga — que é, juntamente com Forte da Casa e Póvoa de Santa Iria, o local de origem de vários doentes internados — disse à agência Lusa que as aulas de Educação Física na freguesia poderão ser suspensas como medida de precaução.

Uma vez que a bactéria legionella se desenvolve em meio aquático e a infecção ocorre por inalação de gotículas contaminadas e não pela ingestão de água, há a preocupação com o risco de infecção em locais como balneários.

"Propus ao Agrupamento de Escolas de Vialonga que se faça amanhã [segunda-feira] uma reunião para discutir este assunto. Se eles estiverem de acordo, irão suspender-se provisoriamente as aulas de Educação Física para evitar os balneários e os banhos", explicou o autarca, citado pela Lusa.

José Gomes confirmou ainda que a junta tem recebido muitas chamadas de pessoas preocupadas com o surto infeccioso. “Enquanto não for descoberta a origem, as pessoas vão continuar com muitas dúvidas", sublinhou.

A quase totalidade dos casos detectados de legionella está concentrada no concelho de Vila Franca de Xira. Dos 90 casos detectados no sábado, 59 estavam internados no Hospital de Vila Franca de Xira e os restantes em hospitais da área metropolitana de Lisboa (Centro Hospitalar de Lisboa Norte, Hospital Amadora-Sintra, Hospital das Descobertas e Hospital Beatriz Ângelo, em Loures).

A bactéria legionella é responsável pela doença do legionário, uma pneumonia grave, cuja infecção se transmite por via aérea (respiratória), através da inalação de gotículas de água.

Num comunicado distribuído já neste domingo, a Direcção-Geral da Saúde volta a deixar diversas recomendações à população: “Devem ser evitados, por agora, os duches, jacuzzi e hidromassagens, enquanto a fonte do problema não for identificada; as cabeças dos chuveiros devem ser desinfectadas por imersão em solução com lixívia, durante cerca de 30 minutos, uma vez por semana, como medida de precaução; nos termoacumuladores, a água deve estar regulada para temperaturas acima dos 75ºC.” A água da rede pública pode continuar a ser consumida, acrescenta a mesma nota. com Ana Brito

 

 

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