Mais de metade das receitas dos médicos são de fármacos de marca em vez de genéricos

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O presidente do Infarmed diz que os médicos podiam receitar mais genéricos Paula Abreu (arquivo)

Os médicos continuam a optar maioritariamente por medicamentos de marca, mais caros, em detrimento de genéricos. Os dados mais recentes da Autoridade Nacional dos Medicamentos e Produtos de Saúde (Infarmed) indicam que, nos grupos terapêuticos onde já existem genéricos, 56 por cento das embalagens vendidas têm um preço superior ao chamado preço de referência. O que significa que mais de metade dos medicamentos receitados (que poderiam ser genéricos) são de marca e mais caros, o que é "preocupante", afirma ao PÚBLICO o presidente do Infarmed, Vasco Maria.

Isto não quer dizer que os médicos não têm colaborado no crescimento da quota de mercado de genéricos em Portugal - que, em embalagens, passou de 0,5 por cento, em 2000, para 14,3 por cento em Fevereiro deste ano. "Não há dúvida que a quota de genéricos cresceu graças aos médicos. Agora, eles podem prescrever muito mais", defende Vasco Maria, sublinhando que o Infarmed garante a qualidade, eficácia e segurança destes medicamentos. Os grupos homogéneos (em que existem genéricos) representam actualmente 43 por cento do mercado total. Um genérico tem o mesmo princípio activo que o medicamento original.

Os dados surgem numa altura em que prossegue a guerra aberta pela Associação Nacional de Farmácias (ANF), que convidou as suas associadas a substituir medicamentos de marca por genéricos, mesmo quando os médicos não o autorizam, para alegadamente dar resposta à crise. A Ordem dos Médicos (OM) retorque que há aqui interesses económicos escondidos porque a ANF se prepara para lançar no mercado uma marca de genéricos, a Almus, um assunto que a Autoridade da Concorrência já está a investigar. Ontem, a ministra da Saúde considerou que a crise económica não justifica a atitude da ANF e avisou que a tutela acompanha o processo e "poderá intervir".

Mas por que razão é que os médicos fazem tanto finca-pé na proibição da substituição das receitas? Porque, explica o bastonário da OM, Pedro Nunes, são enormes os riscos desta troca: "Perde-se a farmacovigilância (não percebemos o que o doente tomou, se teve problemas); e, como os doentes vêem medicamentos de cores diferentes, corre-se o risco de que tomem doses em excesso"; já houve casos de morte por este motivo, afiança.

E por que motivo não receitam mais genéricos? Pedro Nunes explica que os médicos tendem a receitar "os medicamentos que conhecem, e dos laboratórios que lhes dão determinadas garantias". "A molécula pode ser a mesma, mas os medicamentos são diferentes uns dos outros". Por exemplo, os excipientes divergem, o que pode fazer com que a resposta a cada momento não seja igual, acrescenta. Mas admite que a quota de mercado de genéricos pode crescer mais.

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