Mais de dois anos de espera para casais inférteis que precisam da doação de ovócitos

Há uma lista de espera com cerca de 100 casais inférteis no único banco público de gâmetas do país.

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O banco público tem dadores de esperma em número suficiente para a procura Daniel Rocha

Há uma lista de cerca de 100 casais inférteis que só conseguem engravidar recorrendo à doação de ovócitos que enfrentam tempos de espera que podem ultrapassar os dois anos, admite a directora do único banco público de gâmetas do país, Joana Mesquita Guimarães. A médica admite que, à medida que o tempo passa, há casais desta lista de espera dos hospitais públicos acabam por ser excluídos por ultrapassarem o limite de idade. Quem pode pagar mais de seis mil euros no privado, espera três meses.

Os problemas de saúde que podem estar na origem da necessidade do recurso à dádiva de ovócitos de dadoras podem ser vários, desde falência ovárica a ovócitos com anomalias genéticas. Nesses casos, os casais que queiram tentar ter filhos têm que recorrer a ovócitos de dadoras. Nos hospitais públicos a solução é esperar. Só desde Maio de 2011 é que existe um banco público de gâmetas mas, enquanto no caso do esperma, há dadores suficientes, no caso das mulheres, em que o processo é mais complexo e não há congelação, as dadoras não são suficientes para a procura. O limite de idades para as dádivas no feminino são os 35 anos.

A responsável pelo banco público, que é directora do Centro de Procriação Medicamente Assistida do Centro Hospitalar do Norte, diz que há cerca de 100 casais à espera e que isso representa uma espera que pode ultrapassar os dois anos. O limite de idade no caso das mulheres candidatas ao tratamento é de 40 anos e Joana Mesquita Guimarães admite que, à medida que o tempo de espera vai passando, há casais que são excluídos.

A presidente da Associação Portuguesa Fertilidade, Cláudia Vieira, diz que “há casais que estão a ser tratados no público e que, como não há dadoras, desistem porque não têm dinheiro para ir ao privado. O banco não é autosuficiente”. “Os casais com dinheiro para ir ao privado têm tratamentos em dois ou três meses.” Um tratamento com recurso a doação de ovócitos numa clínica privada pode custar mais de seis mil euros. A responsável conhece as dificuldades dos casais que aguardam tratamento no sector público e pretende apostar numa campanha de apelo à doação de gâmetas.

A responsável pelo banco público diz que as campanhas de angariação de dadoras são continuas e fazem-se através de anúncios, de apelos em faculdades. Desde 2001 tiveram 82 candidatas mas apenas 42 se tornaram dadoras efectivas, o que significa uma taxa de exclusão de cerca de 75%, muito aproximada à dos homens. Houve 85 dadores de esperma, 29 passaram mesmo para a doação. O limite de idade nos homens é de 45 anos.

Os motivos de exclusão são vários, desde logo o serem fumadores, terem doenças infecciosas, desconhecerem os pais, perguntas feitas na fase de entrevista médica inicial. As mulheres podem fazer até três dádivas, com seis meses de intervalo, os homens podem ir até às 8. Os dadores são compensados em 280 euros, as mulheres em 637 euros, uma vez que o processo no feminino é mais complexo. Significa que têm que fazer estimulação ovárica durante 10 dias e depois é extraído o ovócito. Joana Mesquita Guimarães diz que é preciso desmistificar o processo e explicar que “não é muito penoso”.

Mais do que as compensações monetárias, as motivações dos dadores, defende, são sobretudo altruistas. Neste momento, em ambos os sexos os dadores já não são maioritariamente os estudantes universitários que e há já também muitos homens e mulheres que têm família constituída. A doação de gâmetas no banco público deu origem a 30 nascimentos e há 17 gravidezes a decorrer, informa Joana Mesquita Guimarães.

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