Mais de cinco mil já disseram não às metas curriculares do 1.º ciclo

Uma petição online considera que esta novidade introduzida por Crato é uma "atrocidade".

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Metas estabelecem mais de 700 descritores de aprendizagem DANIEL ROCHA

Em menos de duas semanas, uma petição pública em prol da alteração das metas curriculares do 1.º ciclo recolheu mais de cinco mil assinaturas, estando assim já em condições de ser proposta para debate no Parlamento.

A petição online foi lançada pela mãe de uma aluna do 2.º ano de escolaridade que ao longo do presente ano lectivo se viu confrontada com o que considera ser “uma atrocidade cometida contra os direitos” das crianças. No 1.º ciclo têm entre 6 e 10 anos de idade.

As metas curriculares de Português e Matemática, que entraram em vigor em 2012/2013, são uma das principais alterações introduzidas pelo actual ministro da Educação, Nuno Crato. Estas metas definem o que os alunos devem saber no final de cada ano de escolaridade, estipulando para o efeito objectivos gerais que se desmultiplicam numa série de descritores, onde se pormenoriza o que se espera que os professores tenham ensinado e os alunos aprendido. Para o 1.º ciclo, as metas de Português e Matemática definem um total de 177 objectivos e 703 descritores.

“Como mãe tenho seguido atentamente o percurso escolar da minha filha e foi com alguma surpresa que me apercebi do extenso programa do 2.º ano e das suas metas curriculares completamente desadequadas ao interesse das crianças”, escreve Vânia Azinheira, a promotora da petição, numa carta aberta onde explica as razões que a levaram a esta iniciativa. Constatou também que “o conteúdo programático ao invés de estar a ser leccionado a um ritmo adequado aos alunos, está a ser ‘debitado a alta velocidade’ para que se atinjam os objectivos programáticos e sem qualquer preocupação para com a apreensão e consolidação dos conhecimentos que devem ser adquiridos”.

As associações de professores de Português e Matemática já tinham alertado para este risco quando da entrada em vigor das metas curriculares e dos novos programas criados para as acolher. O de Matemática entrou em vigor em 2013/2014. O de Português esteve até 18 de Abril em consulta pública. Não se sabe ainda quando será homologado.

Nas metas de Português prescreve-se, por exemplo, que um aluno do 1.º ano deve “ler um texto com articulação e entoação razoavelmente correctas e uma velocidade de leitura de, no mínimo, 55 palavras por minuto”. No 2.º ano este patamar já é de “90 palavras por minuto”.

Nas de Matemática estipula-se, entre vários outros descritores, que no 1.º ano um aluno deve saber “utilizar correctamente os termos segmento de recta, extremos do segmento de recta e pontos do segmento de recta”. No 2.º ano já deve saber contar até mil e utilizar fracções “para referir cada uma das partes de um todo dividido respectivamente em duas, três, quatro, cinco, dez, cem e mil partes equivalentes”.  

“Estamos a criar crianças que não têm tempo para brincar (…), crianças que ainda agora começaram e já se sentem desmotivadas”, alerta Vânia Azinheira no texto da petição online. Muitos dos mais de cinco mil subscritores são também pais de crianças do 1.º ciclo que acrescentam razões para justificar a alteração das metas curriculares. Há quem garanta, por exemplo, que “com estas metas o insucesso e desinteresse escolar são garantidos”. “Não podemos ter crianças frustradas porque não compreendem textos literários ou conceitos matemáticos desadequados à sua idade. Nem escolas transformadas em centros de treino para exames nacionais. Nem professores de mãos atadas por um programa irrealista. Aprender a gostar da escola é fundamental”, avisa-se noutro dos muitos comentários que acompanham a petição.

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