Mãe de suspeito de matar o pai em Sintra traça quadro de violência na família

A antiga companheira do homem assassinado pelo filho em Belas em 2012 traçou nesta quarta-feira no Tribunal de Sintra um quadro de violência no quotidiano da família, devido ao alcoolismo do marido.

A 16 de Agosto de 2012, o filho de uma família de nove irmãos terá disparado um tiro de caçadeira contra o pai, que se encontrava embriagado e que ameaçava os jovens com uma faca.

Os jovens encontravam-se dentro de um barracão e o pai terá tentado abalroar a construção de chapas de zinco com um tractor quando foi atingido.

Na primeira sessão do julgamento, a mãe do suspeito contou ao colectivo de juízes inúmeras situações de violência provocadas pelo antigo companheiro, incluindo agressões sistemáticas.

"O José Alves bebia muito. Cada dia ficava pior. Há vários processos em tribunal por isso, chegou-me a atingir com um tiro no pescoço em 2010. Cheguei a abandonar a casa muitas vezes, mas depois voltava, porque ele me ameaçava", disse Lucinda Rosa, mãe do jovem acusado de matar o pai.

Lucinda Rosa explicou ao colectivo de juízes que já não residia há cerca de um ano com o marido na quinta de Belas, mas que dois dos filhos ficaram a morar com o pai na casa de família, sendo um deles o jovem suspeito.

"O Hugo disse-me que tinha dado um tiro ao pai. Dizem que o pai os tentou matar. Ele não lhes batia a eles, mas sofremos muito com ele. Eles tinham medo por mim, protegiam-me", disse visivelmente emocionada.

Lucinda Rosa contou ter sido alvo de violência doméstica durante os 30 anos em que manteve a relação com José Alves, explicando que o homem a ameaçava constantemente de morte com facas e até com uma motosserra.

O julgamento do jovem de 21 anos acusado dos crimes de homicídio qualificado e de detenção de arma proibida teve hoje início perante um tribunal de júri, a pedido do advogado de defesa.

No início da sessão, a procuradora do Ministério Público, Maria dos Santos, afirmou acreditar "verdadeiramente" na acusação, adiantando, no entanto, não ficar "chocada" se a moldura penal do crime passar de homicídio qualificado (com pena até 25 anos) para homicídio privilegiado, com uma pena de prisão inferior.

O jovem entregou-se à polícia na noite dos factos, esteve em prisão preventiva cerca de oito meses, mas saiu em liberdade em Abril deste ano depois de um relatório do Laboratório da Polícia Científica referir que não foram encontrados resíduos de disparos nem no corpo nem na roupa do suspeito.

Durante a sessão foram ainda ouvidos pelos juízes e por quatro jurados os inspectores da Polícia Judiciária, bem como agentes da Esquadra de Investigação Criminal de Sintra que investigaram o caso, tendo o advogado de defesa do jovem questionado os agentes sobre o motivo de as análises aos vestígios de pólvora apenas terem sido feitas ao suspeito e não aos outros irmãos.

A resposta dos agentes policiais incidiu no facto de o jovem se ter entregado e de ter confessado o crime e de todas as provas apontarem para a sua culpabilidade.

A próxima sessão está agendada para 9 de Outubro, às 13h30.

 
 
 

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