Loro e Liberdade são o terceiro casal de linces a morar no Alentejo

Já há quatro linces ibéricos a viver em liberdade total em território português. Para já, parecem estar a adaptar-se.

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O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas quer enviar para a natureza mais seis linces ibéricos até final de Março João Silva/Arquivo

Podia chamar-se Lua, Lusíada, Lentilha ou mesmo Limão. Entre quase 40 nomes possíveis, a população de Mértola escolheu Liberdade para baptizar a fêmea de lince ibérico (Lynx pardinus) que chega nesta quarta-feira ao cercado alentejano, acompanhada pelo macho Loro. Juntos formam o terceiro casal a ser solto na natureza e em breve vão juntar-se aos quatro linces que já estão em liberdade total.

Inicia-se a agora o terceiro capítulo de uma história que começou a ser escrita em Dezembro, com a primeira soltura branda (numa área confinada) em Portugal de um casal de linces ibéricos criados em cativeiro. Jacarandá e Katmandú deixaram o cercado no início de Fevereiro, deixando o lugar vago para o segundo casal, Kempo e Kayakwero. Estes seguiram-lhes o rasto na semana passada, quando foram novamente abertas as portas.

Nesta quarta-feira chegam Loro, macho oriundo do centro de reprodução em cativeiro El Acebuche (Espanha), nascido no ano passado, e Liberdade, filha de Artemisa e de Fresco, nascida no centro de Silves a 18 de Março de 2014. O nome da fêmea resultou de uma votação aberta às escolas e juntas de freguesia da zona. “Ambos os animais serão libertados seguindo o processo de solta branda [num terreno de dois hectares] para potenciar a adaptação e fixação, tal como aconteceu com os animais anteriores”, escreve o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) num comunicado.

O plano de reintrodução da espécie em Portugal, que está a ser desenvolvido em parceria com Espanha, definiu a zona do Parque Natural do Vale do Guadiana para a libertação de oito a dez linces até ao final do ano. O objectivo é criar condições para o regresso do felino mais ameaçado do mundo, ainda em risco crítico de extinção, ao território português.

Segundo o director do departamento do ICNF no Alentejo, Pedro Rocha, até agora está tudo a correr bem com os linces já soltos. Jacarandá e Katmandú, os pioneiros, andam por São João dos Caldeireiros, uma freguesia do concelho de Mértola. A fêmea fixou-se numa área com “elevada densidade de coelho-bravo” e Katmandú, “apesar de ter circulado bastante, tem centralizado a sua actividade na área circundante ao cercado de solta branda”, diz o ICNF.

O segundo casal, que estava no cercado desde 7 de Fevereiro, foi solto na semana passada. O macho espanhol Kempo e a fêmea lusa Kayakwero tiveram, segundo o ICNF, uma “adaptação positiva com comportamentos normais e captura de coelhos-bravos”, que constituem cerca de 90% da alimentação dos felinos. Todos os linces estão a ser seguidos pelos técnicos do instituto e monitorizados através de coleiras com GPS, que permitem conhecer as suas movimentações. Assim se percebeu, por exemplo, que os dois machos se encontraram há alguns dias, mas não entraram em confronto.

Uma das principais preocupações dos técnicos é o risco de atropelamento, principal causa de morte dos linces ibéricos que já foram libertados em Espanha. Segundo a imprensa espanhola, que cita fontes do projecto Iberlince, só este ano já morreram quatro animais, dos quais pelo menos dois foram atropelados. Nas estradas alentejanas foram colocados novos sinais de trânsito a avisar da presença de linces.

Este mês de Março marca também o início da temporada de partos e no Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico em Silves já há crias. No dia 1 e numa hora apenas, a fêmea Biznaga, que tinha sido emparelhada com Drago, pariu três crias. Duas horas após o parto, Biznaga mudou de toca levando apenas dois filhos, obrigando os técnicos do centro a intervir e a manter numa incubadora a terceira cria. Esta foi depois deixada novamente perto da toca da mãe, que lhe reconheceu o choro e a levou para junto das outras.

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