Lojas sociais ajudam a driblar pobreza em Lisboa

Vinte e seis lojas sociais tentam responder às necessidades das famílias mais carenciadas na zona de Lisboa, com a partilha e troca produtos, essencialmente vestuário e calçado. Regista-se uma tendência para aumentar.

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A procura das lojas sociais "surge, talvez, associado à crise ou toma visibilidade associada à crise", disse à Lusa o vereador dos Direitos Sociais na Câmara de Lisboa, João Afonso. "As pessoas começam a ter consciência de que aquilo de que já não precisam pode ter utilidade para outras pessoas, mas também há muitas pessoas que começam a pensar que talvez não valha a pena comprar", admitiu.

Através da plataforma online de lojas sociais da Câmara de Lisboa, as pessoas interessadas na partilha de produtos e serviços têm a informação sobre onde podem doar ou receber. A funcionar há quatro anos, a Loja Comunitária do Bairro da Boavista, na freguesia de Benfica, "já ajudou mais de 200 famílias" e a tendência é a de que o número cresça, disse a responsável pelo espaço e presidente da Associação de Moradores e Amigos do Bairro da Boavista, Gilda Caldeira. 

O apoio que esta loja social presta às pessoas mais carenciadas, através da partilha de peças de roupa e calçado, "é uma gota de água num oceano" de necessidades, pois continua a não ser suficiente para responder à procura, considerou a responsável. "Esta loja precisava de ter mais espaço e muito mais coisas para satisfazer as necessidades reais das pessoas, que vivem, de facto, para lá da pobreza", disse Gilda Caldeira, frisando que, além da roupa, a alimentação é "um bem precioso" necessário "para não haver meninos que vão para a escola em jejum", como se verifica naquele bairro. Margarida Proença, moradora no Bairro da Boavista, "quase todos os dias" vai à loja social à procura de roupa e calçado para toda a família. Entre "agasalhos, comida, produtos alimentares, tudo faz falta", disse a utente da Loja Comunitária, considerando que o que recebe "é uma ajuda preciosa".

Na freguesia de Belém, desde 2008 que a loja social "Não Custa Nada" faz "a ligação entre as pessoas que querem dar um bem e quem precisa de receber", essencialmente na área do vestuário, mas também quando surgem pessoas que querem doar electrodomésticos ou móveis de que já não precisam, explicou o responsável pelo pelouro de Acção Social da Junta de Freguesia de Belém, João Carvalhosa. "A maior parte são bens usados, mas são bens em bom estado", disse João Carvalhosa.

Com mais de 400 pessoas inscritas, a entrada na loja "Não Custa Nada" requer a contribuição simbólica de cinquenta cêntimos, mas quando são pessoas muito carenciadas "nem pagam, têm é um limite de peças que podem levar", sublinhou. Segundo João Carvalhosa, existe "muita pobreza escondida, que é a chamada pobreza envergonhada".

"Tivemos a consciência e a noção de que a crise afectou não só os mais carenciados, mas também algumas pessoas de classe média", afirmou o responsável pela Acção Social na freguesia de Belém. Luísa Rosa, Teresa Mina e Leonor Ferreira são voluntárias a tempo inteiro nesta loja social em Belém, aproveitando a disponibilidade que a reforma lhes proporciona para ajudarem os que mais precisam. "O principal é fazer a triagem e entregar roupa a quem precisa, depois há outro trabalho que é muito giro, que é falar com as pessoas e poder encaminhá-las", contou Luísa Rosa.

O vereador João Afonso lembrou que "Lisboa vai ser capital europeia do voluntariado e isso também é um reconhecimento do que foi o trabalho [da Câmara de Lisboa] nos últimos anos e dos lisboetas em termos de voluntariado". "Esta prática das lojas sociais também tem a ver com essa disponibilidade e essa vontade de partilhar", frisou.

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