Jovens de zonas problemáticas vão ajudar a promover a saúde mental

Programa Young Health quer trabalhar temas de saúde mental com crianças e adolescentes do programa Escolhas.

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O abandono escolar é dos poucos indicadores em que Portugal se sai melhor no retrato comparado com Espanha Paulo Pimenta (arquivo)

Em bairros onde os problemas parecem somar-se, em que a falta de condições das casas se junta às dificuldades económicas, palavras como tristeza, irritabilidade e agressividade costumam ficar de fora. Sobretudo, entre as camadas mais jovens da população. É a pensar nesta lacuna que nasce, esta terça-feira, em Portugal, o projecto Young Health Programme – Like ME, que até 2015 vai trabalhar com um grupo de jovens entre os dez e os 12 anos uma série de aspectos relacionados com a saúde mental.

O projecto, que será apresentado em Lisboa com a presença do secretário de Estado Adjunto da Saúde, Fernando Leal da Costa, vai abranger cerca de 150 jovens que já estavam integrados no programa Escolhas – que está há mais de dez anos no terreno com o objectivo de promover a inclusão social de crianças e jovens provenientes de contextos socioeconómicos mais vulneráveis. Mas desta vez vai seleccionar crianças dos dez aos 12 anos que vivem em bairros de Lisboa sinalizados e que têm dificuldade de acesso a cuidados de saúde, com o objectivo de avaliar a sua saúde mental e, depois, melhorar alguns indicadores como aumentar em 30% a sua auto-estima e o domínio que têm sobre estes temas. A grande aposta será formar alguns para que dêem seguimento ao trabalho entre pares.

O trabalho será concretizado pela organização não governamental Médicos do Mundo, com o apoio da farmacêutica AstraZeneca, que já tem o programa de responsabilidade social Young Health Programme a nível internacional a decorrer em 12 países, que tiveram a liberdade de seleccionar uma área em que sentiam necessidade de ter uma intervenção mais concreta. Até 2015 o programa chegará a 28 países, num total de 500 mil jovens abrangidos.

A investigadora e psicóloga Margarida Gaspar de Matos, que desde o início tem ajudado a conceber o projecto em Portugal, adianta ao PÚBLICO que “a necessidade de ter um projecto na área da saúde mental surgiu como uma evidência”, já que nestas zonas “há maior propensão” para desenvolver alguns problemas e, ao mesmo tempo, “dificuldade em detectar precocemente alguns sinais numa idade transaccional”, em que a simples mudança de escola pode acarretar dificuldades e contribuir para “agudizar as diferenciações de classe” entre alunos. “A depressão nestas idades muitas vezes surge sob a forma de irritabilidade, irrequietude, má educação, violência”, descreve.

Já a coordenadora de projectos nacionais da Médicos do Mundo, Carla Fernandes, explica que o projecto terá três momentos ao longo de três anos. Numa primeira fase será feito o diagnóstico da situação dos jovens seleccionados e que durará cerca de meio ano. Depois, serão implementadas várias actividades, que vão desde oficinas temáticas à produção de sete pequenos episódios para uma mini-série sobre os temas trabalhados e até a um campo de férias. Nos últimos meses será publicado um estudo, um manual de boas práticas e os resultados sobre as melhorias nos jovens.

Bullying e abandono escolar
“A pedra de toque do projecto será a sustentabilidade entre pares numa fase em que ainda estão a absorver muita informação. A saúde mental é cada vez mais uma prioridade emergente e que tem grande impacto no futuro”, salienta Carla Fernandes, acrescentando que vão dar especial atenção a temas como a violência, o bullying e o abandono escolar, ajudando os jovens a reconhecerem alguns sinais e sintomas que podem ocorrer quando as pessoas são expostas a situações difíceis.

Também Margarida Gaspar de Matos acredita que “a educação entre pares tem uma vantagem muito grande porque estão perto do que está a acontecer e motiva-os”, além de que se promove “uma filosofia de integração e não de assistencialismo”. “A altura da pré-puberdade, ainda sem grandes turbulências, é ideal para aprendermos a conhecer as nossas emoções ainda sem estigmas”, sintetiza.

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