Receio de represálias leva jovem suspeito de matar menor a entregar-se à polícia

Hugo Gonçalo foi atingido com uma soqueira, em Baguim do Monte, Gondomar. Polícia acredita que desavença terá decorrido de comentários sobre namorada no Facebook, mas moradores apontam para rixas entre grupos rivais.

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Fernando Veludo / NFactos

O jovem de 17 anos, suspeito de ter matado na madrugada deste domingo um menor de 14 anos com uma soqueira, em Baguim do Monte, no concelho de Gondomar, acabou por se entregar às autoridades, poucas horas depois. Quando se apresentou na esquadra da PSP de Rio Tinto, por volta do meio-dia, o agressor ia acompanhado por familiares e justificou a sua presença com o receio de ser alvo de represálias. Os inspectores da Polícia Judiciária, que investigam o homicídio, deslocaram-se à esquadra da PSP e levaram o suspeito para a PJ do Porto.

Segundo a versão da polícia, os dois jovens terão combinado um encontro para as 22h de sábado, na Rua Padre Domingues Baião, em Baguim do Monte. O local escolhido foi a rua junto à delegação da Cruz Vermelha que funciona na antiga escola primária de Torreguim. Conheciam-se e pretenderiam esclarecer um episódio que já tinha provocado desavenças entre os dois e que estaria relacionado com comentários no Facebook que um terá feito sobre a namorada do outro. As publicações naquela rede social vinham-se agudizando até que ambos decidiram encontrar-se cara-a-cara, insistiu fonte policial.

O relato feito ao PÚBLICO pelos moradores no local aponta, porém, num sentido contrário: o agressor terá "feito uma espera" à vítima, na esquina junto à Cruz Vermelha, e quando o menor ia a passar no local agrediu-o e seguiu "tranquilamente" o seu caminho. A versão de moradores e polícias converge na ideia de que o jovem agredido estava com a namorada. Esta também foi agredida e ficou com ferimentos ligeiros

Rixas antigas?

Numa versão divergente da apresentada pela polícia, fonte próxima da vítima referiu ao PÚBLICO existir um historial de violência entre os dois rapazes que poderá não estar relacionado com a referida troca de mensagens nas redes sociais envolvendo a namorada da vítima. De acordo com a mesma, o jovem que se entregou às autoridades terá sido alvo de episódios de agressão levados a cabo por um grupo do qual o jovem agredido mortalmente na madrugada deste domingo faria também parte. Esses episódios terão desencadeado a nova rixa que acabou por dar origem à morte do menor.

Segundo relatos de moradores, a agressão terá ocorrido quando o rapaz de 14 anos voltava com a namorada para casa, depois de se ter encontrado com os amigos, “como acontece regularmente”, na estação de metro da Carreira, na linha de Gondomar. Uns metros antes de chegar a casa, junto à Cruz Vermelha, terá sido antigido, de acordo com testemunhas oculares, com alguns socos. Alguns moradores terão tentado socorrer a vítima que estaria já com o “corpo a endurecer”.  Após a agressão, há relatos de que um grupo de amigos da vítima mortal terá seguido em direcção a casa do agressor com o objectivo de retaliar.

Quanto à arma utilizada não parecem subsistir dúvidas. O menor foi atingido com uma soqueira, uma arma branca feita de metal com quatro orifícios para encaixar nos dedos como anéis e que causam ferimentos mais graves no alvo. Fonte do comando da PSP do Porto assegura que não foram utilizadas outras armas. De qualquer forma, como a soqueira ainda não terá sido apreendida, a polícia referencia-a apenas com base nos testemunhos de algumas pessoas viram as agressões.

A vítima foi transportada para o Hospital de São João, no Porto, onde acabou por morrer. O óbito foi declarado na madrugada deste domingo, pelas 3h.

"Rapaz pacato" morava com a mãe e com a avó

Hugo Gonçalo era filho único do primeiro casamento de uma empregada do comércio e vivia com a mãe e com a avó, num apartamento localizado perto do local onde ocorreram as agressões. Foi com a avó que ficou quando recentemente a mãe decidiu emigrar para Itália com o actual namorado. "Ela não se deu bem por lá e acabou por voltar", relatou ao PÚBLICO Maria Rita, a proprietária de um café localizado nas imediações do incidente, descrevendo a vítima, Hugo Gonçalo, como "um rapaz pacato", que estudava numa escola localizada no concelho de Valongo. "Não tenho conhecimento de que fosse de se meter em confusões", acrescentou. Mas também houve quem apontasse à vítima o envolvimento em alguns episódios de pequenos furtos e de consumo de drogas.

Na sua página do Facebook, onde se indentificava como "O verdadeiro Gonzo", e nas páginas de familiares e amigos multiplicaram-se entretanto os votos de pesar e de revolta pela morte do jovem, entremeadas aqui e ali por promessas de vingança.

Quanto ao alegado agressor, surge no Facebook em pose rapper, boné e fio ao pescoço incluídos. Ao que o PÚBLICO apurou, vive com os pais, o avô e um irmão perto de um bairro social, conhecido como “Bairro de Xangai”, que fica a uns 15 minutos a pé do local da agressão. Alguns moradores das proximidades descrevem-no como sendo um rapaz com um passado familiar “complicado”. Há quem o ligue a um grupo que se reunirá com frequência numa mata não muito longe do sítio onde mora. Situado numa propriedade privada, o grupo encontrar-se-á no local para “actividades menos próprias”. No local, onde ontem não se encontrava ninguém, há um tanque de lavar roupa que serve agora de depósito de algum lixo deixado por quem frequenta o espaço.           

Por ter já 17 anos, o suspeito do homicídio deverá ser julgado como adulto, dado que a lei tutelar educativa, que enquadra os actos qualificados como crimes praticados por menores se aplica apenas àqueles com menos de 16 anos - idade a partir do qual os jovens assumem maioridade penal. Neste caso, a pena pode variar entre os oito e os 16 anos de prisão, se for considerado homicídio simples, podendo aumentar até aos 25 anos, caso as autoridades considerem ter-se tratado de um homicídio qualificado.

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